A velha institucionalidade política brasileira morreu. O diagnóstico é severo, mas a realidade não deixa mentir. Infelizmente, os partidos tradicionais viraram estufas de produção em massa de parasitas eleitorais. É claro que existem exceções aqui ou ali, mas, no geral, nossos políticos têm o horizonte do próprio umbigo, sendo incapazes de compreender os complexos desafios do país. O resultado não poderia ser outro: ficamos no meio do caminho. Ou seja, somos menos do que deveríamos ser, pois a incompetência política diminui o Brasil nos sofisticados jogos do capitalismo global.
Sabidamente, a vida é feita de sinais. Logo, a Operação Lava Jato não foi um simples acaso, sinalizando que o jogo mudou. Ou melhor, está mudando. Sem cortinas, o que estamos vendo é a queda do “Antigo Regime” brasileiro: um esboço de democracia que tornou o Estado um prisioneiro de si mesmo.
Por ordem judicial, o labirinto do poder ficou às escuras e sem as velhas referências. Em um ambiente desencontrado, peças tidas por intocáveis começaram a cair, desmontando profundas engrenagens corruptas. Sim, alguns ainda resistem, mas vão perder. No final do dia, não adianta querer enfrentar aquilo que é mais forte que você.
O fato é que não dá mais para pensar a política com as vencidas lógicas do passado. Em recente artigo na The Atlantic, a inteligência superior de Henry Kissinger bem apontou que os “líderes políticos, sobrecarregados por pressões de nicho, são privados de tempo para pensar ou refletir sobre o contexto, contraindo o espaço disponível para o desenvolvimento de visão”, vindo a concluir que “a ênfase do mundo digital na velocidade inibe a reflexão; seu incentivo capacita o radical sobre o ponderado”.
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A pressa, portanto, comprime a razão.
No todo, sistemas estáticos de poder são absolutamente incompatíveis com o dinamismo das relações sociais contemporâneas. A instabilidade do momento ganha eco diante da apatia daqueles que são capazes de conduzir o processo de transição institucional. Objetivamente, nossa elite econômico-intelectual tem que assumir sua responsabilidade na segura condução dos acontecimentos sociais, pois a ignorância, a má-fé e a desonestidade não mais podem governar o Brasil.
Nesse rearranjo estrutural, a nova ordem global requer maior inteligência, sabedoria de análise e precisão de procedimento. Enquanto os mais capazes se omitirem, as pulsões pela mudança apenas estimularão o irrefletido radicalismo irracional. E, sem a prudência do pensamento equilibrado, é impossível a construção de modelos institucionais eficientes, funcionais e duradouros.
Estamos a viver um momento extremamente delicado. O anacronismo e a insuficiência das tradicionais instâncias de mediação social soam cada vez mais perceptíveis, deixando as instituições democráticas vulneráveis a ataques oportunistas.
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O Antigo Regime brasileiro está ruindo. Mas o que virá depois da queda? A pergunta faz pensar, pois a história ensina que, na vida das nações, não há garantia impositiva de progresso. Os ciclos políticos oscilam entre avanços e retrocessos, tornando os jogos do poder um duelo permanente entre forças antagônicas, a espera de um domínio hegemônico organizado.
Entre o fim do que se foi e a construção do que será, temos o hiato do possível. E as possibilidades só se tornam concretas quando a arte do pensar reflete decididas ações vencedoras. Neste país de políticos derrotistas, é urgente o surgir de lideranças cívicas realmente comprometidas com um virtuoso projeto de Brasil. No final, um país só muda quando os cidadãos de bem rompem a inércia de nada fazer. Hora do primeiro passo. Quem vem?