O Brasil é uma fábrica de insanidades. Os atentados à razão são tantos e numerosos que acabam virando normalidade. Aqui, bandido exalta fuzil em praça pública, mas a polícia não pode atirar. Aqui, corrupto tem foro privilegiado, enquanto o cidadão vai para as vias ordinárias. Aqui, político é internado em hospital de luxo, enquanto faltam medicamentos nos postos de saúde. Aqui, o pagador de impostos marcha duas vezes: primeiro, para a incompetência pública; depois, para a proteção privada. Aqui, o povo vota em mentiras escancaradas. Aqui, a decência é envergonhada, mas a safadeza festiva. Aqui, senhoras e senhores, até presidiário quer ser Presidente da República.
Ironicamente, transformar o Palácio do Planalto em prisão de segurança máxima faria um certo sentido. O grau de decadência institucional brasileira é assustador. A desonra e a indignidade parecem governar a nação. As pessoas procuram, mas não encontram referências sérias. Buscam líderes autênticos e apenas se deparam com canalhas estrelados. Ora, chega! Não dá mais. O Brasil não merece a classe política que tem.
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O problema é que o nível de renovação dos parlamentos será baixíssimo. Quase 90% da Câmara dos Deputados irá à reeleição e vão se eleger. Usando os bilionários recursos do fundo eleitoral, os profissionais da política brasileira quebram a paridade de armas do pleito, dispondo de uma capacidade de financiamento que os novos aspirantes à vida pública não possuem. A injustiça é absoluta. A questão é que nós, cidadãos, olhamos a democracia como um valor civilizatório, enquanto os carreiristas políticos a tratam com frieza negocial.
Portanto, não espere milagres nem tenha ilusões com o resultado das urnas. Infelizmente, canalhas das mais diversas matizes serão reeleitos. A hora, todavia, não é desesperança. Em um momento extremamente delicado, com profundas divisões na sociedade americana, Bobby Kennedy proferiu discurso histórico na Universidade do Alabama, pedindo a ajuda das pessoas – não para ele, mas para o país – propondo uma grande reconciliação nacional. Eis o espírito político que deve guiar o Brasil nos próximos atos; precisamos criar um projeto comum de nação, que nos una como brasileiros e que nos dê a coragem necessária para enfrentarmos os desafios que se avizinham no horizonte.
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Se queremos mudanças, precisamos agir mais e melhor. Temos que aprender que democracia é ir além do voto e fazer da participação cívica diária um elemento transformador da realidade social. É preciso confiar e fazer. Afinal, se a política decepciona, podemos acreditar em nós mesmos. E, juntos, fazermos um Brasil que tenhamos orgulho de viver e lutar.