Especialistas analisam os impactos da adoção da meritocracia como forma de bonificar docentes nas instituições de ensino do país
O reconhecimento ao esforço e ao desenvolvimento das potencialidades individuais está previsto na Declaração Universal dos Direitos Humanos. A meritocracia, que premia o desempenho pessoal, reduz o nepotismo e o apadrinhamento, melhorando, consequentemente, o desenvolvimento econômico e social. Contudo, ainda não é devidamente valorizada no Brasil, principalmente em alguns setores.
Para o pós-doutor em direito e especialista do Instituto Millenium, Alexandre Pagliarini, esse é o caso da educação. O professor destaca, por exemplo, que a nova lei federal para contratar professores universitários não considera os diferentes graus de formação acadêmica. “A legislação coloca todos os professores na mesma tábua rasa, seja ele um pós-doutor ou um mestre. É um absurdo”, opina.
O sociólogo Simon Schwartzman também considera importante reconhecer e premiar o mérito na educação. Isso atrelado à identificação do mau desempenho, que precisa ser corrigido. Segundo ele, o problema nesse tipo de avaliação está, muitas vezes, na maneira como o processo é conduzido, não no sistema em si.
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Schwartzman: “O governo não tem muita capacidade para comandar o sistema educacional”
“Um caminho muito utilizado é avaliar o professor pelo desempenho de seus alunos. A ideia, em princípio, é interessante, mas tem muitos problemas de implantação. Um deles é que grande parte do desempenho dos alunos depende de condições socioeconômicas e de outras que os professores não podem alterar”, exemplifica. Ele acrescenta ainda que os educadores, uma vez que alcancem níveis razoáveis de desempenho, por parte dos alunos, perdem o incentivo para seguirem se aperfeiçoando.
Schwartzman acredita, portanto, que essas dificuldades podem ser contornadas com a adoção de metas que considerem o contexto das instituições de ensino. “A simples imposição de metas quantitativas a partir de dados estatísticos dificilmente funciona bem, porque esses dados estão sujeitos a erros de muitos tipos e as metas ficam sem legitimidade”, opina. “Professores em escolas mais problemáticas necessitam de apoio pela dificuldade que enfrentam no dia a dia de seu trabalho”, completa.
Para João Batista Oliveira, fundador e presidente do Instituto Alfa e Beto, o importante é garantir condições de trabalho adequadas e investir na formação dos professores para que possam ensinar e produzir melhor. “A instrumentalização funciona muito melhor do que o incentivo”, afirma.
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