Depois de um bom rally de alta das bolsas de valores em julho – Bovespa subiu 10,8% – o início de agosto foi de volatilidade, diante das incertezas sobre a intensidade do ritmo de recuperação, tanto nos EUA como na Europa. Nos EUA, a ata do Copom e uma série de indicadores mostraram, em sua maioria, uma retomada mais modesta do que o esperado. Na Europa, os ajustes para fazer frente ao alto endividamento seguem em curso.
Se na Grécia a recessão é inevitável, com o PIB do segundo trimestre tendo recuado 3,5%, nos outros países da zona do euro um alento surge, com o crescimento deste bloco alavancado pela Alemanha, no seu dinamismo exportador. Por lá, o crescimento chegou a 2,2% no segundo trimestre contra o anterior e 3,7% contra o mesmo do ano passado. Com isto, a zona do euro experimentou crescimento razoável no segundo trimestre, 1% e 1,7%, respectivamente. O PIB da França cresceu 0,6% e da Espanha e Portugal 0,2%.
Isto nos leva a crer que as economias reagem, mesmo que de forma errática, dada a fragilidade ainda existente nos mercados de crédito e na oferta de emprego. A Espanha, por exemplo, vem se confrontando com desemprego de 20% da PEA, em média, neste primeiro semestre de 2010. Sem renda, ou no receio da perda de emprego, as pessoas acabam não consumindo e poupando mais. Em junho, a taxa de poupança nos EUA chegou a 6,4% do PIB, numa tendência de alta. Com o consumo fraco, os preços acabam despencando. O CPI (inflação ao consumidor) de julho nos EUA recuou 0,3%, com o núcleo em leve elevação de 0,1%. Por outro lado, as vendas do varejo deram um alento em julho, avançando 0,4%, contra recuo de 0,3% no mês anterior.
Na China, indicadores mais fracos de produção e comércio varejista e a inflação em torno de 3,3% em julho acabaram acendendo um sinal amarelo para as exportações brasileiras, já que cerca de 20% se concentram em minério de ferro para os chineses. Nas revisões de crescimento do dragão asiático, a desaceleração parece inevitável, mesmo que num patamar ainda alto e confortável para o padrão brasileiro. O crescimento do PIB, em cerca de 11,9% no primeiro trimestre, desacelerou a 10,3% no segundo e neste terceiro trimestre deve fechar em torno de 9%.
Voltando-nos ao Brasil, uma boa novidade na semana passada veio do desempenho das vendas do varejo em bom crescimento, mesmo com a preocupação em relação à capacidade de endividamento dos consumidores, e o salto da inadimplência, tendo crescido cerca de 3,6%, segundo a Serasa Experian.
Pelo IBGE, as vendas do comércio varejista surpreenderam a todos em junho, subindo 1% contra maio, acumulando uma alta de 11,5% no primeiro semestre, a maior da história da pesquisa. Todos os setores mostraram dinamismo, mas um acabou se destacando, o de Hiper, Supermercados, Alimentos e Bebidas. Este subiu 10,4% no acumulado ao ano, liderando os setores ao longo deste semestre. Lembremos que este setor é considerado essencial para o desempenho do varejo, por representar o maior peso na pesquisa. Ganhos de renda e preços dos alimentos estáveis contribuíram para este bom desempenho, assim como a maior oferta de crédito acabou sustentando as vendas de bens duráveis. Estes últimos, conhecidos como Móveis e Eletrodomésticos, subiram 20,6% no período.
Em contrapartida a isto, surpreendeu a queda de 3,1% nas vendas de Material de Construção em junho contra maio, considerada, no entanto, como um “ajuste pontual”.
Para julho, diante de bons indicadores, espera-se recuperação. Pela ANFAVEA, a produção automobilística avançou 3,2% contra junho; o Índice de Confiança do Consumidor avançou 1,8% na mesma base de comparação, indo a 116,8 pontos, o segundo maior da série histórica; o Índice de Comércio da Serasa avançou 0,9% em julho contra junho e a Demanda por Crédito dos Consumidores cresceu 9,3% na mesma base de comparação, depois de recuar 10,2% na anterior.
Para o segundo semestre, os sinais indicam um realinhamento da economia no ritmo de crescimento, depois do ajuste do segundo trimestre. A proximidade das Festas de fim de ano, o pagamento de reajustes dos aposentados e os vários dissídios de categorias, como metalúrgicos, bancários e comerciários, devem contribuir para isto.
Nossa visão é de que o PIB, que cresceu 2,4% no primeiro trimestre, contra o anterior, deva recuar a 0,6% no segundo trimestre contra o anterior, para então se recuperar, crescendo entre 1% e 1,2% nos dois últimos trimestres do ano. Como resultado, o PIB fechará 2010 com crescimento de 6,8%.
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