Nesta “semana momesca”, a agenda econômica esteve carregada, sendo destaque a decisão do Copom e a divulgação do crescimento do PIB. Façamos uma análise destes, com variantes e corolários ao longo de 2014.
Decisão do Copom previsível- Veio sem surpresas, com a elevação do juro em apenas 0,25 ponto percentual, de 10,5% a 10,75%, rompendo com o ciclo de ajustes de 0,5 ponto percentual dos últimos meses. Achamos, inclusive, que esta atuação mais incisiva do Copom pode estar chegando ao fim, dados os resultados obtidos e, também, o intricado calendário eleitoral deste ano.
Isto, inclusive, pode ser visto pelo gráfico a seguir, mostrando que, até o momento, estas elevações de juros foram bem sucedidas ao derrubar a inflação, pelo IPCA, em fevereiro, nos 12 meses, estimados em 5,5%, depois de registrar 5,84% em setembro passado. Esta é também a opinião do Presidente do BACEN, Alexandre Tombini, ao afirmar que “a política monetária tem efeito defasado e que o aperto promovido pelo Copom desde abril do ano passado já mostrou resultados”.
Além disto, muitos acham que o ritmo mais fraco da economia deve ser suficiente para este ajuste menor do juro nos próximos meses. A preocupação seria evitar a derrubada maior da atividade. O comunicado do Copom pode ter sinalizado isto ao ter suprimindo o termo “neste momento” e mantido o termo “dando prosseguimento”. Ou seja, o BACEN deixou em aberto a possibilidade de novos ajustes, mesmo que em ritmo menor.
Tal ponto de vista, no entanto, precisa ser feito com cuidado, já que uma série de pressões podem ocorrer ao longo do ano, como o reajuste dos preços administrados, represados nos últimos anos. Em 2013, estes variaram próximos a 1,5% e neste ano devem passar de 5%. Dentre os que devem sofrer reajustes, destaque para energia elétrica, em função dos fortes custos das térmicas e a seca, podendo gerar racionamentos, e da gasolina, diante da necessidade da Petrobras faturar mais, aumentar sua produção e reduzir seu nível de endividamento, para afastar o risco de dowgrading das agências. Estes, no entanto, só devem ocorrer depois das eleições.
Por enquanto, esta Consultoria acredita em mais um ajuste de 0,25 p.p., a 11%, para depois haver uma parada até o final de 2014. Importante estar atento, no entanto, aos fatores de pressão descritos acima, assim com a evolução das contas públicas, dado o pacote fiscal anunciado, confrontado pelos recentes números de janeiro, o ritmo da economia, o comportamento do câmbio, dentre outros.
Crescimento do PIB em 2013 acima do esperado, mas insuficiente- Veio alentador, com expansão de 2,3% no ano, 0,7% no quarto trimestre, contra o anterior, e 1,9% contra o mesmo trimestre do ano passado. O mercado esperava menos.
Os setores Agropecuário e de Serviços acabaram segurando o PIB no ano. O Agropecuário foi beneficiado pelas safras recordes no ano e o de Serviços em alta, em função do bom desempenho do Comércio, das Atividades Imobiliárias e Aluguel, dos Transportes e da área de Informação. Este, por ter grande peso na economia, representando 59% do PIB, segundo pesquisa do IBGE, vem tendo grande influência no comportamento da economia nos últimos anos. Com as políticas sociais adotadas, surgimento de novas classes de consumo e migração de empregos da indústria para os serviços, refletindo esta “sociedade pós-industrial” que vivemos hoje, este segmento vem avançando, motivado também pela proximidade dos grandes eventos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas em 2016.
Pelo lado da demanda, o Consumo das Famílias avançou 2,3%, junto com o Consumo do Governo, crescendo 1,9% e os Investimentos 6,3%. Nestes últimos, dúvidas surgem já que foi sustentado por máquinas e equipamentos (neste caso, pela mudança de motores de caminhões, agora menos poluentes, e pelas máquinas agrícolas), pela base de comparação favorável, já que em 2012 os investimentos recuaram 4%, e pela estabilidade da construção civil, representando 42% da FBCF. Ressaltemos que, em contrapartida, a produção de bens de capital, pela indústria, em dezembro contra novembro, recuou 11,6%.
Para este início de 2014, preocupam a redução dos desembolsos do BNDES, a confiança dos agentes em deterioração e os riscos de racionamento de energia. O resultado dos leilões de concessões em 2013, a Copa do Mundo e investimentos do PAC, por outro lado, podem mitigar este cenário, sustentando uma trajetória razoável para os investimentos. Outra boa notícia é o carry over, efeito carregamento entre um ano e o outro, que deve sustentar o crescimento, no mínimo, em torno 0,5/0,7% neste ano de 2014.
Por fim, chama atenção também a taxa de investimento, em relação ao PIB, estagnada e fechando 2013 em 18,4% do PIB, mesma do ano anterior (18,2%), e a poupança interna, a 13,9%, recuando frente a 2012 (14,6%).
Isto reflete um modelo econômico, até então adotado, sustentado pelo consumo em detrimento dos investimentos e do nível de poupança interna. Com isto, o déficit externo acabou inevitável, fechando 2013 e iniciando este ano acima de 3,6% do PIB. Um fato amenizador, porém, seria o confortável nível de reservas cambiais, nos colocando como credores externos e afastando, por ora, possíveis rupturas externas.
Enfim, é necessário alterar este modelo, tornando-o mais focado em investimentos, em obras de infraestrutura, no resgate da agenda de reformas estruturais, como a tributária e da Previdência, e menos no consumo e no desequilíbrio externo. Como fazer isto? Através de um ajuste fiscal de fato, aumento da produtividade, inversões na educação, etc. Sem isto, nosso crescimento potencial acabará limitado, não passando dos 2,5% atuais.
Comentários finais- Na próxima semana estaremos realizando a nossa revisão das projeções de 2014. Em princípio, estamos mantendo o crescimento da economia em torno de 2,0%, mas no aguardo do comportamento dos investimentos. Somado a isto, a inflação deve se manter pressionada, em torno de 6%, o câmbio a R$ 2,55 e a taxa de juros, como dito acima, elevada a 11%.
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