A guerra é, portanto, um ato de força para obrigar o nosso inimigo a fazer a nossa vontade. A força, para opor-se à força oponente, mune-se de invenções da arte e da ciência.
(…) nem mesmo o resultado final de uma guerra deve ser sempre considerado como
sendo definitivo.
(…) a guerra furta-se à rigorosa exigência teórica de que devam ser empregados extremos de força.
(…) Se tudo é uma questão de cálculo de probabilidades com base em determinados indivíduos e em determinadas condições, o propósito político, que foi a razão inicial, deve tornar-se um fator essencial da equação.
(…) a guerra não é meramente um ato de política, mas um verdadeiro instrumento político, uma continuação das relações políticas realizada com outros meios.
Da Guerra. Carl V. Clausewitz.
O combate planetário ao COVID-19 fez com que muitos se apropriassem de imagens bélicas. Todos com seus objetivos políticos próprios.
Pode-se dizer que há 4 tipos (dimensões) de guerras ocorrendo em paralelo.
O primeiro, à moda do clássico “A guerra dos mundos”. O mundo microscópico contra o mundo macroscópico. Sendo que no caso atual, ao microscópico não interessa destruir o macroscópico, fonte de sua existência. É apenas mais uma forma de vida tentando permanecer.
O segundo é a guerra entre o conhecimento/prática resultante do amálgama de demografia, estatística, geografia e funcionamento de vírus nos corpos humanos contra diversos outros conhecimentos e práticas que com ele disputam os recursos de poder, inclusive orçamento estatal.
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O terceiro é a guerra entre nações e países. Cada um no meio da confusão gerada pela difusão planetária do microorganismo – iniciada em um ponto específico do território terráquero – tentando estabelecer uma nova ordem ou tentando se localizar da melhor forma possível para o porvir do duro balanço político, econômico e científico que está por vir.
Por fim, dentro dos países, os diversos grupos de interesse também disputam seu pedaço no latifúndio durante e pós confusão pandêmica. Diversas visões de mundo e interesses específicos se materializam em táticas diversas: do “deixar fazer até certo ponto” até o banhar o corpo do outro com cloro, passando pela ameaça de prisão ou afirmação de que a morte é castigo por desobedecer o demiurgo estado/governo.
No encontro das poderosas forças que compõem este vetor localiza-se a maioria dos sete bilhões de humanos que sofrem com as consequências biológicas, políticas e econômicas da circulação deste Coronavírus.
É provável que muitos dos hábitos que a situação cria, incluindo aí mudanças em processos de trabalho, sejam mantidos. Outros, como o aumento da intervenção do estado/governo na vida dos indivíduos e família, tendem a ser removidos por meio do combate. A guerra contra o autoritarismo é permanente.