O ideal do poder é agir em tempo real. Se a distância de circulação e a distância de comunicação tendessem para a igualdade, o poder não estaria longe de ser absoluto e toda tentativa totalitária encontraria ali um ponto de apoio para controlar o mundo.
Claude Raffestin.
Por muitos anos paguei minhas contas atuando profissionalmente como analista de sistemas e desenvolvedor de software. Conhecer o manuseio de ferramentas como Basic, Cobol 4381, clipper, C, PHP, PostgreSQL, entre outras, possibilitava-me sobreviver. Atividade profissional esta que permeia, até hoje, minha forma de pensar acerca da realidade que me circunda.
Nesta última semana conversas remotas com algumas pessoas próximas me fizeram expressar, de forma lógica e simples, a lógica política subjacente às decisões da elite que comanda o aparato governamental em relação à banalidade de nossas vidas diárias. Conversas estas que foram o incentivo para este pequeno texto. Sou muito grato a estas pessoas. Eis o algoritmo da lógica política:
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Há muito Maquiavel havia orientado o Príncipe (variável Z), caso ele quisesse perdurar enquanto quem decide sobre a vida de seus súditos, que fizesse o mal de uma só vez e o bem em poucas doses distribuídas no tempo. Tudo indica que o Príncipe do século XXI concluiu que se fracionar o mal e distribuí-lo ao longo do tempo seus servos podem concluir que isso é um bem, não um mal. O loop que o aconselhado contemporâneo de Maquiavel obrigou-nos a entrar, dado o contexto, aparenta ser a distribuição quase infinita de doses fracionadas do mal. Obviamente que tal derivação é fundamentada tanto no objetivo de ganhos, quanto na desconsideração de diversas dimensões (variáveis).
Felizmente as telecomunicações brasileiras foram privatizadas e a inflação controlada. Isso permitiu que a maior parte de nossa comunidade política (A) tenha um celular e acesso mínimo à Internet. Assim, a liberdade política (M) não pôde ser reduzida em intensidade e forma como as liberdades econômica (K) e de circulação (L). Neste simples e fundamental fato reside a possibilidade de sairmos do loop quase infinito à revelia do Príncipe.
A pandemia de covid-19 (que em breve se tornará endemia, pois é uma gripe) moveu o sistema político no sentido de fortalecer alguns componentes de saúde pública, o que é algo bom no curto prazo.
Concluo este não simples devaneio com uma indagação importante para nosso futuro: uma vez superado o aparente loop infinito nossa sociedade e a elite que ocupa o comando da variável Z se debruçará sobre os problemas envolvendo os múltiplos interesses, preferências e objetivos do grande partido sanitarista brasileiro e sobre as ineficiências e tendências totalitárias do componente estatal de nosso sistema nacional de saúde?