A existência de uma bolha de crédito na economia brasileira foi o tema de uma série de artigos publicados recentemente. Nestes artigos, economistas brasileiros e estrangeiros revezaram-se na apresentação de análises favoráveis e contrárias ao tema em questão. O que está ocorrendo e quais os argumentos apresentados?
A evolução do crédito no Brasil foi estonteante: de 25% do PIB, em maio de 2003, passamos a 47% do PIB, em maio de 2011. Avanços institucionais e a queda das taxas de juros ajudaram muito neste processo. Em maio de 2003, a taxa média mensal no crédito à pessoa física era aproximadamente 100% ao ano. Antes das medidas restritivas do Banco Central, esta taxa chegou a ficar próxima de 40%, hoje se situando um pouco abaixo de 50% ao ano.
Outro movimento notável ocorre no setor imobiliário. Seguindo a evolução do arcabouço institucional (alienação fiduciária de bens imóveis, CRI, LCI) e as pressões decorrentes do crescimento econômico e demográfico, o crédito habitacional, que era 2% do PIB em 2007, já representa cerca de 5% do PIB e deve dobrar de tamanho em poucos anos.
A preocupação atual se refere, primordialmente, ao custo que a dívida existente representa. O comprometimento de renda já está próximo de 30% da massa salarial e alguns analistas (mais afoitos) calculam comprometimento de até mesmo 50% na chamada “nova classe média”. O aumento (discreto) na inadimplência seria um sinal de que o momento da verdade é iminente.
O fato é que essas conclusões são frágeis e estão apoiadas em achismos. Segundo dados oficiais, a inadimplência de 15 a 90 dias vem caindo desde março último. Além disso, o próprio indicador de comprometimento de renda apresenta dificuldades intrínsecas.
Um crescimento acelerado de crédito deve ser acompanhado de muita suspeita, já que um declínio também significativo na qualidade dos empréstimos é usualmente verificado. Porém, esse não parece ser o caso do Brasil. Até agora, boa parte do crescimento se deu em linhas de baixo risco relativo (consignado, imobiliário, etc), e bons motivos para essa expansão não faltam: melhora significativa do ambiente institucional, estabilidade macroeconômica, crescimento e melhor distribuição da renda, entre outros. Lembremos que o crédito/PIB só agora alcança patamar condizente com a importância da economia brasileira, ainda estando muito aquém dos valores observados em países desenvolvidos.
É evidente que a vigilância não deve baixar a guarda. Felizmente, o Banco Central do Brasil, que tem a responsabilidade e a capacidade de analisar a questão, parece estar atento à situação. Os pesquisadores da instituição divulgaram recentemente uma nova ferramenta de acompanhamento do setor: a Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito no Brasil. Segundo os autores: “O principal objetivo da pesquisa é a criação de indicadores de tendência do mercado de crédito, tanto do lado da oferta como da demanda, medindo a percepção dos agentes econômicos sobre as perspectivas do mercado, a exemplo do que já é feito em outros países…”. Esse é mais um sinal positivo de que os reguladores brasileiros estão atentos e não deixarão que o entusiasmo com as excelentes perspectivas do país deixe de ter um final feliz.
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