Há um efeito em psicologia chamado “tempestade perfeita”: denomina um quadro de eventos em que várias pessoas, quando juntas, diluem sua responsabilidade a respeito de alguma má ação. É muito comum em crianças desordeiras, que não seriam mal-criadas sozinhas, mas, em companhia de outras, dividem a culpa e as chineladas pelo ato.
Esse efeito tem conseqüências bastante curiosas, imperceptíveis sob uma visão um pouco rasteira. Um exemplo foi a difamada frase de Regina Duarte na campanha tucana de 2001: “Eu tenho medo”. Taxada de alarmista, conspiracionista, desesperada e tucana neoliberal burguesa reacionária elitista de direita, foi caçoada e teve sua imagem atrelada à frase desde então, pelo crime de temer o futuro nas mãos de um presidente que há pouco defendia o “socialismo democrático”, whatever that is.
Regina Duarte estava certa, mas serviu de bode expiatório para que o velho ódio “de classes” fosse engatilhado nas hostes petistas, arrolando toda uma geração condicionada a um discurso colegial de extrema-esquerda que, como os homens da caverna de Platão, nunca parou para cotejar tal teoria com aquela entidade tão abstrata e longínqua que só pode ser coisa de burguês: a realidade.
Em 2001, o risco Brasil bateu o recorde de 1.256 pontos base em 8 de outubro. O mercado estava com medo. Regina Duarte não é porta-voz do mercado. É apenas um rostinho conhecido, enquanto todos corremos ao Google para descobrir o nome do CEO da BP. Regina Duarte pagou o pato. O mercado, e Regina Duarte, estavam certos: o Brasil só funcionaria se o que o PT pregava fosse jogado na famosa “lata de lixo da História”, de Trotsky. Do contrário, todas as empresas teriam fugido daqui e hoje seria difícil ligar de Blackberry para os amiguinhos se reunirem em uma festa sindical.
Mas, até hoje, é quase uma obrigação moral espinafrar Regina Duarte por sua frase, mesmo que, lá no fundo, saiba-se que ela não estava errada. O rancor que move os ataques à eterna Helena de Manoel Carlos não seria, também, siricutico de quem não está em perfeita saúde psicológica? Mas como são milhares, quiçá milhões de transeuntes em um orquestrado faniquito uníssono, não se tem um nome para se para servir de bode expiatório. A responsabilidade pelo descabelamento é diluída num oceano de gotas.
FHC estava certo em privatizar companhias falidas. A campanha de Dilma, aproveitando-se da ojeriza esquerdista pela realidade, se foca em reclamar do fato. O lucro líquido da Vale do Rio Doce, de 1943, ano da fundação, a 1997, foi de US$ 192 milhões. De 1998 até 2009, a o lucro foi de US$ 4,6 bilhões. Os impostos pagos saltaram de US$ 31 milhões para US$ 1,093 bilhão por ano. Se o PT e a esquerda querem empresas “para o povo”, pois o dinheiro é do povo, só poderiam comemorar ter mais dinheiro advindo só de impostos em um ano, hoje, do que todo o seu lucro em quase 55 anos pré-privatização.
Mas FHC é um nome que pode ser “culpado” pela privatização, que é considerada algo próximo do fascismo pela nossa mentalidade terceiro-mundista, de quem espera que um governante nos pegue pelo colo. E que nome pode ser apontado em todo o governo Lula pela “culpa” de ainda não terem a estatizado de volta, se o seu discurso é esse?
Lula e Palocci concederam um prazo de dois anos para acabar com o “neoliberalismo” de FHC para uma “política dos trabalhadores”. A política de FHC continua sendo executada até hoje, oito anos depois. Não é de supor que Lula e Palocci, na hora H, ficaram com tanto medo quanto Regina Duarte? Será que foi pelo vírus Regina duartii que o PT, na campanha de 2002, chegou a apontar a privatização da Embraer como modelo – e que faz com que hoje possa ostentar os números que ostenta, mantendo a mesma política de seu antecessor?
Não só ela, mas o Brasil tinha medo de que Lula ainda flertasse com ideais socialistas, como pregava abertamente em debate contra Collor, logo depois do colapso do bloco soviético. O PT votara contra Lei de Responsabilidade Fiscal e tinha histórico de pouco tato com a legalidade, com seus braços armados da CUT, MST e UNE. Fora, inclusive, ao STF tentar acabar com a lei. Ao assumir o Ministério da Fazenda, Antônio Palocci tratou de anunciar que a respeitaria. Não é chocante um político assumir um ministério e se ver obrigado a declarar que vai, ora essa, cumprir as leis?
Regina Duarte tinha medo de o Brasil mudar. O Brasil não mudou: manteve tudo igual. Qual a diferença da política de Lula e de FHC? Não só Regina Duarte tinha medo: o PT, hoje, tem medo de afugentar investidores. Com as rédeas do poder, sabe o que é que funciona. O que é que põe dinheiro em caixa, para criar fundos sociais. A ala do PT que é contra a reginaduartização do partido fundou o PSOL, e hoje não obtém 1% dos votos.
Mas o pior não é o que fez com que ninguém mais tenha medo do PT. O pior, é claro, é o que o PT ainda pode fazer.
O discurso petista, e que angaria voto para Dilma, é opor supostas “classes”. Na boca dos brasileiros que prestaram atenção nas verborrágicas aulas de História pós-oitava série, fala-se em derrotar a “política burguesa”. Fala-se de classes sociais como se elas realmente existissem como propõem. Fala-se em burguesia num país que nunca teve burgos, e cuja classe média deriva mais do funcionalismo público do que de feiras mercantis em entrepostos comerciais europeus.
O problema de opor “ricos” contra “pobres”, e chamar os ricos de “burgueses”, ao mesmo tempo em que paradoxalmente os chama de “classe média”, é que ricos e pobres, como eles supõem, sequer existem. Não há classes estanques aos quais espécie, gênero e família pertençam. Não há como opor ricos a pobres em um país cuja maioria é a classe média.
A classe média fica perdida num tiroteio de palavras irreais, e é exatamente nela em que o discurso reina. E quando se pede para um discursante ou um ouvinte se definir, imediatamente se vê obrigado a se considerar do lado de baixo por medo de parecer antipático, mas sempre com suas reservas.
Regina Duarte tem medo. Eu tenho medo. O ódio de pseudo-classes está sendo instaurado no Brasil, sem a quebradeira marxista. Exatamente como o modelo estatizante é insuflado por via oficial, enquanto as privatizações são mantidas para poder sustentá-lo.
Novamente, há muitas pessoas reunidas sob auspícios de uma idéia estapafúrdia, mas com maior camaradagem na repartição da responsabilidade sobre sua esquizofrenia do que na repartição de dividendos extra-oficiais. Sempre se pode culpar a classe média, aquela classe externa e longínqua. Sobretudo quando se é da classe média.
Regina Duarte estava certa. As classes estão lutando. Pior: eu fiz minha matrícula tarde, e preciso saber com urgência a que classe eu pertenço. Do contrário, não contente em estar mais perdido que cego em tiroteio, ainda apanharei de galera no meio da quizumba. Ou, pior ainda: de duas galeras. Eu pego ônibus, e nas classes médias de média baixa há muitos eleitores da Dilma a paisana. O discurso do PT me trata como alvo. E não tenho um partido de neoliberais pobres para me defender.
Regina Duarte, você e eu estamos com medo. Mas até o PT criou um salutar medo de socializar além da conta.
será que ela sentiu medo em 64
ou se sentiu protegida pela operação brother sam?
dica:
não menospreze a influência estadunidense em nossa história recente. em documentos mais explícitos que este (http://www.mofa.go.jp/policy/other/bluebook/1989/1989-3-4.htm) – busco e torno a postar, se necessário for, os EUA, no auge do consenso de Washington, ainda ditavam os nomes dos candidatos que não poderiam vencer eleições em seu curral eleitoral.
nem sei como eles ainda gostaram tanto dum governo que buscou incessantemente minimizar a ingerência estadunidense como o lulista.
barra reflita 🙂
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Eu nunca li um texto tão vazio e tendencioso, comparável à propaganda eleitoral do Serra. A Regina Duarte estava tão certa quanto a prova que a Globo arranjou sobre a tal bobina de fita crepe. Eu sou brasileiro, trabalhador e posso afirmar que o país melhorou muito com o governo Lula em relação ao anterior. Até hoje em 2010 pregam o caos, que a dívida pública vai levar o país a um colapso, o mesmo discurso de antes do Lula assumir a presidência, com uma roupagem um pouco diferente. Dia 31/10 a esperança venceu o medo parte II, com Dilma presidente!
“estadunidense”, palavra que só é falada por quem não saiu da quinta série mental do esquerdismo.
E Luiz, eu nunca vi um comentário tão vazio e tendencioso, comparável à propaganda eleitoral da Dilma.
Ao comentar que Regina Duarte está tão certa quanto à prova do rolo de fita você concordou com o autor. Ou você está dizendo que as imagens foram forjadas? Alguém de fora do seu centro acadêmico tem alguma prova, ou é baboseira de esquerdista-FEFELÉEXI? Acho que você é tão trabalhador quanto o Lulinha depois do zoológico.
lamentável
O problema de voces da classe média é não estão conformadados de dividirem os seus direitos e privilégios com ninguem.Ainda mais do tipo como eleitor acima que parecer não acitar opinioes contrarias a favor de Lula ou Dilma.
O país agora é outro,estamos divindo o bolo da igualdade,fato esse que voces não estavam querendo fazer.
Arrume outro discurso mais adulto amigo e em vez de atacar ou ofender os outros Vitor.Caia na real,Lula e o presidente mais popular do Brasil dos últimos tempos.
Bravo Vitor! Está no meio das feras e se manteve corajoso. É isso aí , ação gera reação!
NA VERDADE ENTÃO NADA MUDOU TANTO:
1-as ingerências não são dos EUA , são de Cuba /Venezuela, Irã….ótimos exemplos de paises que respeitam os direitos humanos , não acham?
2-as baixas estão existindo sem uma guerra declarada , o que será que aconteceu com o companheiro Celso Daniel e……….?
3-Lula é o mais popular diante de um povo que em sua maioria não teve educação(triste)e , que troca os valores éticos por uma bolsa família.Sem esquecer que o “cara ” é ainda mais popular entre a elite econômica , que nunca dantes neste país teve tantos privilégios .
E Fábio , o seu lider pertence a que classe social?Que eu saiba ele é da Classe AA ,usa Armani /toma Romanee Conti, apartamento no Guarujá ….o filho tem fazenda de R$50.000.000 e agora como fará , ele é seu inimigo então?
Tenham coerência nos discursos ……
Manteve-se corajoso? Nunca vi coragem virtual ;)Corajosa foi a Dilma, que enfrentou a ditadura, foi presa e torturada. Na real! Já o Serra…ah, o Serra…saiu menor,como disse o Lula. De Serra virou uma lixa de unha…Quando a UNE mais precisou fugiu pro Chile, sendo que ele era o presidente…seria como se o comandante do navio fosse o primeiro a embarcar num bote frente um naufrágio…Serra fujão!!! Dilma presidente!
O texto é tão escroto que nem merece comentário. Medo tenho eu ao verificar que os pulhas pululam pelo Brasil e continuam a escrever suas besteiras. A campanha deste segundo turno mostraram bem o nível deste pessoal, que é capaz de tudo pra ganhar a eleição. Felizmente, não ganharam. O povo é bem melhor do que eles. Chorem, reacionários.
“O problema de voces da classe média é não estão conformadados de dividirem os seus direitos e privilégios com ninguem”
Como diria Lobão, bem sei que já faz muito tempo, mas não pude deixar de notar o preconceito social desse burro (não é o único), crente que lula e cia. dividiram algo para o bem dos pobres, quando um próprio órgão governista e ideologizado pelo pT atesta que os pobres são os que mais sofrem com a carga de impostos que o PT ainda quer aumentar mais.
Continuando, direitos (que são individuais, de cada pessoa)não se dividem, se cedem, por força maior ante um governo de direito ou de facto ditatorial ou por covardia. Quanto a achar que pessoas de classe média têm “privilégios”, pague um aluguel + condomínio, luz, gás, transporte, alimentação e pense em ter filhos e/ou se divertir com R$ 2 mil e poucos. Dizer que classe média tem “privilégios” é coisa de quem não sabe o que viver como a classe média real. Mauricinho comunóide.
A desigualdade social já quebra seu argumento. Vivemos talvez ilegitimamente um Etnocentrismo social que é reforçado por ambos os lados. Intolerância unilateral e obviamente de modo oportuno usado em favor e detrimento há uma plataforma política.