A negociação do impasse nuclear com o Irã pode colocar em risco o apoio do Reino Unido ao Brasil para a almejada cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. É o que diz a matéria de Claudia Antunes para a “Folha de S. Paulo”:
“Um “alto funcionário” do governo britânico esteve em Brasília no início do ano para dizer que o país perderia apoio no pleito por cadeira no Conselho de Segurança (ONU) se insistisse em negociar o impasse nuclear com o Irã, opondo-se às sanções.
Segundo o embaixador Marcel Biato, da assessoria internacional da Presidência, o enviado do ex-premiê Gordon Brown citou a África do Sul, que teria se “inabilitado” ao CS quando, como membro não permanente, em 2007, se opôs à condenação do Zimbábue.
Na época, os sul-africanos perfilavam-se como intermediários de negociações entre o ditador Robert Mugabe e a oposição, que levaram em 2008 a um gabinete de coalizão, após a vitória opositora em eleições.
Biato afirmou ter rejeitado a pressão britânica.
“Eu disse que havia uma pequena confusão. Não é que para o Brasil seja um objetivo entrar neste Conselho. O CS é um instrumento. Entrar num conselho que nos servirá de camisa de força, constrangidos a adotar posições a contragosto, não faz jus à nossa história.”“FORMA TOSCA”
Ele e os ex-chanceleres do governo FHC Luiz Felipe Lampreia e Celso Lafer participaram de debate do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), que discutiu se a diplomacia atual agiria além dos recursos de poder do Brasil.
Lampreia disse que o governo responde “de forma um tanto tosca” aos desafios de ser hoje um país com maior influência.
“Querer a reforma do CS a toque de caixa é uma inutilidade. E, tomando uma série de atitudes como a do Irã, fica difícil não só de o Brasil entrar [no CS] como de que haja essa reforma.”
Para ele, a “ascensão de um país outsider para um insider em termos de poder é sempre um processo que passa por guerra ou por lenta afirmação, não é fácil”. A trajetória, disse, não pode ser “turbinada” com “bomba atômica, frente antiamericana ou frentes Sul-Sul”.
Biato respondeu que, sem “poder incontrastável” como o da China, o Brasil deve firmar-se “por sua capacidade de transformação interna”.
Defendeu a vocação “universalista” do país e que pode valer mais a pena lutar de fora [do CS] por mudanças na ordem global.
Lafer disse que falta avaliação adequada das possibilidades externas e interesses nacionais.
“Há ênfase excessiva no prestígio e preocupação menos objetiva com interesses.”
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