Depois de três mortes em protestos, cerca de dois mil jovens voltaram às ruas da capital venezuelana para condenar a violência e a “repressão” do governo. Mas a violência continua. Pelo menos 125 jovens foram detidos durante as manifestações, de acordo com a ONG Foro Penal. Três jornalistas também estavam entre a lista de presos em Caracas, dentre eles um professor universitário. Para Francine Jácome, diretora do Instituto Venezuelano de Estudos Sociais e Políticos, tensão social nasce da radicalização governista.
O Globo: Três pessoas morreram nos protestos, há mais de 60 feridos. Existe uma radicalização nas ruas?
Francine Jácome: É o momento de maior violência do governo Maduro. A radicalização das marchas tem a ver com a radicalização do discurso governista, cheio de termos repressivos que fazem com que setores mais radicais do chavismo sintam espaço para agir com mais violência. Há grupos armados paramilitares nas ruas com armamento de guerra, do qual o Estado tem monopólio. E eles agem sem controle da polícia ou da Guarda Nacional. As marchas cresceram por uma crise que vivemos decorrente de 14 anos de governo Chávez. Mas o governo não pode assumir isso, e responde com mais repressão. Criminalizou o direito de protestar.
O Globo: Parte da oposição defende a ida às ruas, em vez do diálogo com o governo. Até que ponto é uma tática eficiente?
Jácome: Opositores como Leopoldo López, Antonio Ledezma e María Corina Machado sempre chamaram o povo às ruas. Mas dentro de um discurso pacífico. O problema é que, diante da situação atual, não avaliaram a repercussão de levar as pessoas às ruas. Hoje, isso só gera situações de mais violência. A oposição tem que reavaliar essa tática, porque os focos de violência, ao final, beneficiam os governistas. Eles não só controlam a informação como usam isso para reforçar o discurso de uma oposição violenta, desestabilizadora.
Muitos meios de comunicação já começam a se autocensurar…
Toda a censura que vinha de anos piorou. Um ou dois dias antes das últimas manifestações, o diretor do órgão que regula as telecomunicações disse que o governo acompanharia toda a cobertura dos meios de comunicação e puniria os que difundissem os protestos por incitação à violência. Eles se calaram. E, na ausência de cobertura, começa a circular uma quantidade imensa de informação nas redes sociais que muitas vezes não é verdade. Há uma desinformação que aumenta o clima de violência e de descontrole.
O Globo: O que esperar da tensão nas ruas nos próximos dias?
Jácome: A repressão será ainda maior. E não só da polícia, mas dos paramilitares. Há uma perturbação da vida de todos os venezuelanos. Há pouca afluência de alunos nas escolas, e as universidades estão tomadas por assembleias. É um clima de muita incerteza.
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