O noticiário da semana foi contundente para o cidadão brasileiro. Assistimos a um verdadeiro apagão do Estado. Alguns temas são recorrentes. Os transtornos causados pelas chuvas em São Paulo. A criminalidade aberta no Rio de Janeiro. O Congresso absolvendo novas levas de parlamentares acusados de corrupção. Servidores de elite do Judiciário, com vencimentos acima de 20 mil reais, propondo aumentos salariais e vantagens adicionais. Sindicatos da elite trabalhadora – financiados por contribuições obrigatórias e recursos públicos – exigindo novos aumentos do salário mínimo com passeatas em Brasília. E, como novidade, o apagão aéreo, mais um sintoma da formidável crise de gestão que levou à falência múltipla de órgãos do Estado brasileiro. A percepção pública dessa falência operacional é indisfarçável. E, se o leitor recebeu com um “quem-sabe-agora-façam-alguma-coisa” a notícia de que a presidente do STF, ministra Ellen Gracie Fleetnorth, e seus seguranças foram assaltados por um bando de homens armados com fuzis em plena via pública no Rio, é porque transpôs a linha da súplica paciente para o desespero inconformado. Afinal, em terra sem lei, exige-se, pelo menos, que todos sejam iguais perante o crime. O colapso operacional do Estado em suas funções clássicas, de proteção da vida e das propriedades, levou a opinião pública a uma posição de súplica desesperada. Mas é igualmente preocupante quando as manchetes mostram que a extorsão começa a se tornar parte da lógica da vida em sociedade, na tentativa de usar o Estado para abocanhar fatias da renda nacional. As economias de mercado são mecanismos de coordenação de esforços produtivos. A invasão desse espaço por uma lógica de extorsão com base em pressões políticas interrompe todo esse eficiente mecanismo de criação de riqueza. Os sindicalistas não devem acreditar que as pressões políticas, em vez de horas de trabalho e melhor qualificação, sejam a chave para futuros aumentos de salário. Da mesma forma, se um jovem da zona rural observa resultados mais rápidos filiando-se ao MST e invadindo terras em vez de cursar agronomia para melhorar suas qualificações, estamos no caminho errado. O mesmo se aplica aos empresários e grupos de interesse que se aproximam do Estado em busca de favores especiais. Programas de renda mínima, bolsa-família e bolsa-escola são gastos inteiramente legítimos sob a óptica da democratização dos orçamentos públicos, embora devessem ser implementados de forma descentralizada. Da mesma forma que as modernas empresas transnacionais desenham estratégias globais implementadas localmente, as políticas públicas podem ter concepção federal, mas devem ser implementadas por mecanismos de gestão estaduais e municipais. Mas quando vemos empresários, servidores do Legislativo e do Judiciário, sindicalistas e trabalhadores organizados, todos correndo atrás do Estado em busca de recursos, ocorre um completo desvirtuamento da vida em sociedade. Em vez da lógica de prestação de serviços, passa a predominar a extorsão de recursos contra o restante da sociedade. A social-democracia está nos tornando uma República de pedintes.
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