O que era quase 4 virou quase 2,5, em poucos meses. Foi essa a mudança na projeção do crescimento nos EUA para este ano. Não é pouca mudança. Na Europa também houve decepção. A Grécia não fez o ajuste prometido e dificilmente voltará ao mercado no ano que vem, como planejado. A alternativa de reestruturação da dívida ameaça impactar, por contágio, alguns países europeus. A China e outros emergentes continuam apertando as políticas econômicas e suas economias estão desacelerando. As bolsas de valores ficaram mais voláteis, ciclotímicas. Quando a economia cresce um pouco há ânimo total, quando desacelera volta-se a falar no risco de recessão. Os analistas e o mercado ainda resistem a encarar o novo futuro da economia global, aquele com crescimento menor e desafios maiores.
Na sexta-feira, o dado de emprego dos EUA mostrou que a economia americana ainda vai demorar a voltar aos trilhos. O desemprego alto deve permanecer por algum tempo. A taxa de desemprego em maio, na verdade, subiu de 8,9% para 9,1% e o emprego cresceu apenas 54 mil no mesmo mês, aquém das expectativas dos analistas, que estavam em torno de 160 mil (o mercado já se prepara para um número pior, mas nem tanto, entre 100 e 140 mil). Fica claro que a economia americana não está crescendo no ritmo compatível com o crescimento anterior à crise, 3,5%-4% (quando se criavam, em média, 200 mil a 250 mil empregos por mês). Foram anos de pujança, mas insustentáveis, que levaram à crise. O crescimento de emprego será mais lento e o desemprego, mais alto por mais tempo. O mundo está pronto para esta realidade mais amarga?
Estimamos que esse crescimento menor do emprego nos EUA seja temporário, dado que o número de horas trabalhadas e a estimativa da renda do trabalho continuam crescendo num bom ritmo. Mas o ritmo para a frente, no médio prazo, será necessariamente menor, compatível com crescimento de 2,5% (com criação de cerca de 150 mil empregos/mês).
Na Europa, o ânimo com o primeiro trimestre de crescimento vem acabando, à medida que os dados do segundo trimestre indicam desaceleração. Sem contar a possibilidade de uma reestruturação em algum país periférico. Após a crise, sobraram os déficits elevados e as altas dívidas públicas. Como pagar? Os países periféricos como Grécia, Irlanda e Portugal têm mais dificuldade pelo tamanho do legado e menor financiamento. O recurso à depreciação da moeda – para alavancar o crescimento e ajudar as finanças públicas – é limitado por estarem atrelados à zona do euro. Sobra o caminho difícil de cortar gastos, cortar os estímulos ao crescimento e reduzir o padrão de vida. Se não conseguirem trilhar o caminho do ajuste, resta a reestruturação da dívida ou o resgate ainda maior pelos países centrais. Esses países (como a Alemanha) preferem não arcar com mais essa conta para não sobrecarregarem seus contribuintes, já descontentes com suas próprias finanças públicas após a crise. Mas se houver necessidade de reestruturação na Grécia, as dúvidas recairão sobre Portugal, Irlanda e, talvez, Espanha. Não é uma perspectiva confortável para o futuro da Europa e do euro.
A verdade é que a estrutura da economia global mudou. O consumidor americano retraiu-se – para pagar suas dívidas -, assim como algumas economias europeias. Devem crescer mais devagar, talvez por décadas. Essas economias andaram em velocidade excessiva e, agora, começam a pagar suas multas (algumas poderão ter ainda sua licença cassada…). O mundo hoje caminha em busca do “consumidor de última instância” para substituir os consumidores retraídos nos países desenvolvidos. Serão as economias emergentes que sustentarão o crescimento mundial. Bilhões de pessoas vão se incorporar ao comércio global e mudarão o perfil da economia no mundo. Serão os ricos do futuro. EUA e Japão já estiveram nessa posição e, após anos de crescimento, assumiram seu atual posto.
Mas mesmo nos emergentes devemos observar uma desaceleração como resultado de suas políticas para combater a inflação e outros excessos provenientes do superaquecimento da economia. O PIB da China não deve voltar a crescer 12%, como antes da crise. Caminha para um crescimento da ordem de 8,5%-9% ao ano. O ânimo dos analistas nos países emergentes levava-os a acreditar na manutenção de um crescimento maior, de tal forma que ultrapassariam o tamanho das economias dos países desenvolvidos ainda mais rápido do que o planejado (a economia da China alcançaria o primeiro lugar em 2016).
No Brasil, na nossa avaliação, a economia já está em processo de desaceleração. Um conjunto bastante amplo de indicadores (emprego, renda, confiança do empresário, confiança do consumidor, crédito, gastos do governo, transferências fiscais, vendas no comércio, produção na indústria, consumo de energia elétrica, etc.) relacionados à atividade econômica sinaliza que a economia perdeu força. Os fundamentos de demanda também indicam um crescimento menor para a frente. Houve retração dos estímulos à economia via aumento de juros, crescimento menor das despesas do setor público e das concessões de crédito (livres e direcionados, após as medidas macroprudenciais). As exportações perderam ímpeto e a confiança de empresários e consumidores entrou em trajetória descendente. Esperamos que a economia cresça a taxas mais moderadas nos próximos trimestres, em especial na segunda metade de 2011, e feche o ano com crescimento do PIB de 3,6%.
Em suma, os problemas de crescimento nos EUA e na Europa, as dúvidas sobre a resolução da crise da dívida das economias periféricas na Europa e a desaceleração induzida na China, no Brasil e em outras economias emergentes introduzem incerteza ao cenário e trazem volatilidade aos mercados no mundo e no País. O crescimento ao longo desta década será menor do que na década passada. O mundo ainda terá de aceitar esta nova realidade do pós-crise.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 07/06/2011
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