Os mercados viveram um período de intensas especulações entre a reunião do Copom e a ata da semana seguinte. Tudo porque, no seu comunicado, o Bacen afirmou que manteria a taxa de juros em 11% neste momento. Mesmo que já tivesse usado este termo em comunicados anteriores o mercado resolveu especular sobre este último. Isto contribuiu para que muitos apostassem (com este termo) que o Bacen estaria sinalizando uma redução da taxa nas próximas reuniões.
Isto se refletiu no mercado futuro de juros (DI), com os contratos mais negociados, de janeiro de 2015, “suavizando a curva de juros” e na taxa de contrato Swap DI X Pré de 360 dias, contra IPCA dos próximos 12 meses, registrando redução de 4,8% em junho para 4,7% no começo de julho e nas últimas semanas, diante da queda do DI futuro, a 4,6% (menor patamar desde janeiro).
A ata, no entanto, acabou afastando esta possibilidade de mexida do juro, ao afirmar que “contempla inflação nos próximos trimestres, mas, que, mantidas as condições monetárias (ou seja, mantido o juro em 11%), tende a entrar em trajetória de convergência para a meta nos trimestres finais do horizonte de projeção (2015 e 2016)”. Disse também que está no aguardo dos “efeitos defasados da elevação do juro a se materializarem sobre a inflação”. Para o Bacen a inflação elevada mostra resistência, decorrente de “dois processos de ajuste dos preços relativos em curso na economia – realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais e dos preços administrados em relação aos livres”. Ou seja, reforçou a tese de que o Bacen se mantém vigilante diante da resistência da inflação, negando possíveis alterações, pelo menos até as eleições ou o final do ano.
Concordamos com esta postura do Bacen na ata. Predominou o bom senso e a cautela na condução da política monetária, em momento crítico, de alta volatilidade, diante da proximidade das eleições e dos fundamentos econômicos em deterioração. Caso optasse por reduzir a taxa de juros, diante de uma inflação no teto da meta (6,51% pelo IPCA-15 em 12 meses), o risco maior seria afetar ainda mais sua já frágil credibilidade (duramente conquistada nos últimos tempos).
Somado a isto, a economia opera num ritmo fraco, não porque o juro esteja elevado, mas sim por decisões erradas de política econômica no passado e um ambiente eleitoral polarizado, reduzindo os índices de confiança dos agentes econômicos. O “tiro sairia pela culatra”, com a redução do juro abalando ainda mais a já baixa credibilidade do Bacen e não estimulando consumo e investimentos. Muitos consumidores estão adiando suas compras, pelo esgotamento na capacidade de endividamento e também pelo receio do desemprego. Já as empresas, diante do ambiente de negócios ruim e a polarização eleitoral, estão optando por adiar seus projetos de investimento.
Como bem disse uma analista de pesquisa do FMI, ao falar sobre o Brasil, “o animal spirits, como diria Keynes, neste momento não está operando muito bem por aqui”. Esta instituição, inclusive, reduziu a projeção de crescimento da economia para este ano, de 1,9% para 1,3%, e para 2015, de 2,6% para 2,0%. A Focus projeta 0,97% neste ano e alguns bancos trabalham com 0,6%. Para Olivier Blanchard, economista-chefe, o país “possui claros impedimentos estruturais, mantendo os investimentos em queda e limitando o crescimento”.
No dia seguinte à ata, no entanto, o Bacen anunciou “novas medidas macroprudenciais”, como a liberação de 50% do compulsório dos depósitos a prazo para as carteiras de crédito dos bancos. Em vez de entregar ao Bacen, os bancos passam agora a emprestar estes recursos ou até comprar carteiras de outros bancos. Como os consumidores estão mais seletivos, evitando se endividar, por estarem no limite, e as empresas só devem desengavetar projetos (ou não) depois das eleições, estas medidas possivelmente devem ter pouca eficácia. O risco maior, isto sim, será gerar “empoçamento de liquidez” nos bancos, por não terem a quem emprestar.
De certa forma, estas medidas acabaram em contradição com a ata do dia anterior. Nesta, o Bacen se mostrou vigilante com a inflação, no dia seguinte anunciou medidas de estímulo ao crédito e ao consumo. Achamos que o Bacen, estimulando a economia, via redução de juro ou afrouxamento do crédito num momento errado, pode estar atuando em contradição ao que disse na ata, além de extrapolar nas suas atribuições de “guardião da moeda” (além de fiscalizador do sistema financeiro). Achamos que esta última decisão teve uma conotação mais política, por estimular o consumo com a proximidade das eleições.
No debate teórico, é o que chamam de “duplo mandato”, na qual o Bacen busca o sistema de metas da inflação (SMI) e junto o crescimento maior do emprego e da economia. Relembrando a Curva de Philips, no seu trade-off entre inflação e desemprego, observamos que adotando medidas de estímulo ao crédito e ao crescimento, o ritmo maior é gerar mais inflação.
No Brasil o Bacen só persegue uma meta, a da inflação, não tendo, portanto este “duplo mandato”, qual seja, estimular o crescimento e o nível de emprego e controlar a inflação.
O Fed, por exemplo, persegue outros objetivos, além da inflação, como a manutenção do elevado nível de emprego e o alto crescimento econômico (além da prevenção de falências bancárias e a manutenção da saúde do sistema financeiro, como no nosso caso).
Isto fica bem claro nos comunicados das reuniões do FOMC/Fed em passado recente, sob a liderança de Ben Bernanke. Nestas, comentou que ao final da política de estímulos (Quantitative Easing 1, 2 e 3) teria início o “ciclo de aperto de juros”, a ser “acionado pelos gatilhos do CPI (inflação) a 2% e a taxa de desemprego a 6,5% da PEA”. Nas últimas reuniões, no entanto, sob a liderança de Jannet Yellen, vem evitando metas quantitativas (indicadores econômicos) para não gerar novos ruídos nos mercados, em função da incapacidade de definir o timing exato para o início da elevação do juro. Vem optando agora por “metas qualitativas e mais amplas de inflação e desemprego”.
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