A cada dia que passa o Brasil dá sinais fortes de que está deixando a crise para trás. A economia começa a respirar e a atividade empresarial apresenta dados sólidos de retomada do crescimento, inclusive com os números do desemprego recuando, ainda que lentamente.
O dado impressionante nesta análise é a extraordinária capacidade de reação do Brasil. Mesmo roubado como nunca havia acontecido antes, mesmo enfiado na mais grave crise econômica da história, em função da adoção de políticas completamente equivocadas, implementadas por um governo sem noção de nada e que levou a incompetência ao seu mais alto patamar, foi dar uma folga, permitir um respiro, e a nação reagiu rapidamente no campo econômico e está reagindo também no campo político.
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No rumo certo
A verdade é que o Brasil é um país extraordinariamente rico e com uma capacidade de geração de riqueza rara em outras nações. Sufocado por uma carga tributária absurda, com uma máquina pública ineficiente e que não cabe na capacidade de pagamento da nação, tungado por políticos de todos os partidos, escangalhado por um judiciário pesado, caro e lento, ancorado numa legislação da pior qualidade, vítima de achismos ideológicos expulsos do mundo civilizado há décadas, ainda assim, o Brasil consegue dar a volta por cima e, no espaço de menos de um ano, começa a retomar o rumo do crescimento.
O setor de seguros agradece. Com a retomada do crescimento, seguradoras e corretores de seguros terão o alívio gerado pela contratação de novas apólices, ainda que, no primeiro momento, seja, de verdade, a contratação de seguros que foram cancelados ou deixaram de ser feitos por causa da crise. Tanto faz, o importante é que a economia aquecida significa mais faturamento.
Entre os diversos setores da economia nacional, seguros foi dos que menos sofreu em função dos desmandos praticados em nome de todas as tolices e da roubalheira levada a efeito pelos detentores do poder ao longo dos últimos 15 anos.
Não houve nenhuma quebra de seguradora mais expressiva no mercado. De uma forma ou de outra, deu para tocar o barco e, com a recuperação da atividade econômica, é de se esperar que os resultados voltem a ser razoavelmente positivos num prazo não muito longo.
Os corretores sofreram mais. Principalmente os menores, que são a grande maioria e que dependem basicamente do seguro de veículos. Muitos sentiram o peso da crise no dia a dia de suas famílias, diretamente afetadas pela impossibilidade de conseguir novos seguros ou mesmo de renovar as apólices existentes. Não é caso de soltar rojões porque em pouco tempo o Brasil será uma potência econômica correndo a toda a velocidade por um caminho bem pavimentado e sem surpresas. Quem imaginar isso corre o sério risco de dar com os burros na parede.
Ainda há um longo trabalho a ser feito, antes de se poder comemorar. Os problemas nacionais são muito mais fundos do que a crise econômica. Esta, como estamos vendo, é muito menor do que a nação. O problema é que, se não mexermos nas estruturas do país, não modificarmos radicalmente o quadro da previdência, das leis trabalhistas, do judiciário como um todo, corremos o risco de voltarmos à situação da qual estamos saindo.
Mas, para poder mexer nestes pontos, é indispensável a completa revisão do arcabouço político da nação, desde a constituição dos partidos políticos até a eleição dos representantes do povo, passando pela forma de financiamento e controle do sistema, com a possibilidade do eleitor efetivamente comandar a festa.
O duro é que, para fazer isso, são necessárias alterações consistentes de toda a legislação pátria, a começar pela Constituição de 1988, a pior constituição da história do país e grande responsável por termos chegado no fundo do poço.
No sistema democrático respeita-se a lei e, quem deve votar as mudanças — com as exceções de sempre — é a corja que tomou de assalto a política e a administração pública do Brasil. Isso vai dar trabalho, mas só depois da limpeza moral da nação teremos a certeza de que vamos dar a volta por cima.
Fonte: “O Estado de S. Paulo”, 23/10/2017.
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