O Copacabana Palace fechou as portas pela primeira vez em 97 anos. O Aeroporto Internacional Tom Jobim opera com apenas três voos diários. São vários os exemplos do impacto da crise do coronavírus no turismo.
Mas um dos setores mais afetados pela pandemia pode se tornar a principal alavanca para permitir a retomada do crescimento da economia do Rio de Janeiro. Para isso, especialistas, empresários e o poder público já começam a traçar uma estratégia de modo a permitir o crescimento de um segmento que hoje responde por 4,9% do PIB fluminense.
O governo do Estado do Rio já desenha um plano de retomada do setor. Segundo Otavio Leite, secretário estadual de Turismo, assim que passar o momento de isolamento por causa da Covid-19, haverá uma campanha de atração de turistas de cidades próximas, bem como visitantes das regiões Sudeste e Sul. O objetivo é atuar em um raio de 600 quilômetros de distância.
— Vamos fazer um trabalho com os escritórios de turismo de todo o Estado do Rio e a rede hoteleira. Vamos montar essa estratégia juntos. Vamos criar pacotes a preços competitivos. A ideia é que o brasileiro use o carro para viajar. Essa é a primeira iniciativa para reaquecer um setor tão importante para a economia — afirmou Leite.
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O empresário Roberto Medina, idealizador do Rock in Rio, um dos principais eventos do país, lembra que o turismo gera um impacto na economia do estado de R$ 27 bilhões. Ele ressalta a importância da criação de uma política pública para desenvolver um plano de retomada.
Medina também cita o investimento em propaganda para atrair turistas e a criação de um projeto que conceda descontos a pessoas de fora do Rio, de forma a aumentar a receita de hotéis e restaurantes.
— É preciso fazer algo para a economia girar. O turismo é uma indústria indutora. Se fizermos isso de forma conjunta, o Rio vai renascer. O turista precisa chegar aqui e ter uma agenda forte. Outra iniciativa é aumentar os eventos que já são populares, como o carnaval — disse Medina.
Patrocínio à cultura
Por outro lado, diversos empresários reforçam a necessidade de o governo federal, por meio dos bancos públicos e estatais, estabelecer uma nova estratégia de patrocínio a eventos culturais no atual momento. Para isso funcionar, acrescenta Medina, é preciso desburocratizar o setor:
— Como os produtores vão conseguir empréstimos se não têm como dar garantias? Poderíamos pensar em alternativas, como uma percentagem da bilheteria.
Pedro Augusto Guimarães, diretor-presidente do Apresenta Rio, associação que reúne empresas de eventos, defende uma ação conjunta para retomar o setor. Além de linhas de financiamento, sugere o diferimento de pagamento de impostos como ISS e IPTU para 2021 como forma de ajudar as pequenas e médias empresas. Mas, para Guimarães, é preciso também pensar nas grandes empresas responsáveis por projetos maiores.
— O mais importante é que os governos, tanto municipal como estadual, não parem os projetos que estão em análise hoje. Um grande evento, por exemplo, tem que ser trabalhado com um ano de antecedência. As empresas aéreas só vão reprogramar os voos quando houver fluxo. Uma coisa leva a outra. É preciso investir em campanhas. No Rio, há mais de 50 hotéis fechados — afirmou Guimarães.
Ricardo Piquet, diretor-presidente do IDG, responsável pela gestão do Museu do Amanhã, também aposta no incentivo ao turismo nacional. Ele acredita que a atual crise pode servir como oportunidade para que o governo alce o setor como prioritário, reduzindo sua carga tributária; e para que os empresários, por outro lado, invistam na melhoria da qualidade de seus serviços.
— É uma pauta que deve caminhar dos dois lados. Se isso tudo for feito, o turismo pode puxar a recuperação. O que seria da quarentena sem a cultura? Por isso, precisamos ajudar na retomada, que será lenta e gradativa — ressaltou Piquet.
Turistas mais seletivos
Segundo Murilo Paschoal, presidente do Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas (Sindepat), o setor vai precisar redobrar os esforços para voltar a crescer após a pandemia. Isso porque, diz ele, o turista vai estar mais seletivo na hora de escolher sua viagem. Por isso, ele lembra que é preciso investir desde já, seja com linhas de financiamento a empresas do setor ou com o aumento de verbas de divulgação de cidades.
+ Ana Carla Abrão: Crédito e contaminação
— Estados e cidades precisam lutar por mais voos, mais estradas, mais atrações. Também é preciso garantir a sustentabilidade do produto e também de quem trabalha com ele. Atração não é produto turístico. O Brasil tem essa mania de achar que sua beleza natural é suficiente para atrair o turista. Nosso número de turistas internacionais não muda há 20 anos, está na casa de sete milhões. A Coreia do Sul, por exemplo, passou de 7,8 milhões de turistas para 17,5 milhões de visitantes estrangeiros nos últimos anos — ressaltou.
Para Paschoal, o investimento no turista brasileiro é essencial. Pesquisas revelam que a maioria das pessoas vai optar por viagens pelo próprio país, em vez de nações no exterior:
— Tudo indica que somente em 2021 as pessoas deverão voltar a fazer viagens mais longas. Os otimistas estão apostando no réveillon para um início de retomada. Os menos otimistas falam em algo a partir de abril e maio do próximo ano. Não sabemos como ficarão as férias, os feriados, porque não sabemos nem quando vamos retomar.
Retorno rápido
Incentivos fiscais e promoção do calendário de eventos são algumas das iniciativas que podem impulsionar o setor de eventos e turismo, diz Duda Magalhães, presidente da Dream Factory. Ele destaca um melhor uso das leis estaduais de incentivos fiscais de ICMS:
— Precisamos de uma vez por todas entender que, diferentemente de outros segmentos, quando um evento é realizado com parte de seu orçamento via incentivo fiscal, ele atrai investimento privado, faz a roda girar, e o Estado arrecada antes mesmo de conceder a dedução fiscal para o patrocinador do evento. Isso movimenta hotéis, restaurantes, transporte, lojas etc.
Fonte: “O Globo”