O cenário mais provável para os próximos anos é o de um ambiente externo de menor liquidez e com taxas de juros internacionais mais altas do que nos últimos anos.
Após a crise de 2008, os Bancos Centrais de países ricos –EUA, Japão, Reino Unido e agora Zona do Euro– adotaram políticas de alta liquidez para estimular suas economias. Elas provocaram busca de retornos maiores por parte dos investidores, o que resultou em maior oferta de recursos aos demais países.
Num primeiro momento, essas políticas criaram preocupações em muitos emergentes com enchente de dólares e apreciação de suas moedas, o que reduz a capacidade de exportar. Nas reuniões multilaterais, os EUA argumentaram que este era o único caminho para estimular o crescimento, dados os limites de gastos impostos pelo Congresso. Com o tempo, as economias foram se adaptando a essa liquidez e hoje o grande desafio e risco é a volta à normalidade.
A boa notícia é que a crise já está sendo superada nos EUA e no Reino Unido, gerando maior demanda externa. Por outro lado, isso eliminará a necessidade das medicações extremas, e sua retirada pode gerar efeitos colaterais negativos, particularmente em países com déficit elevado nas contas externas.
O novo normal deve começar pelo Fed (BC dos EUA), que já reduz a injeção de liquidez e sinaliza alta de juros em 2015. Esse movimento deve mudar a posição de empresas e governos que estavam com políticas adaptadas à fartura de recursos. O problema é que é mais fácil adotar políticas de estímulos fortes para combater a crise do que retirá-las depois.
O grande risco se dá na adaptação nos países emergentes –tanto governos quanto empresas– à alta dos juros e à menor disponibilidade de empréstimos depois da grande expansão de créditos em moedas locais e também em moeda estrangeira.
O último episódio com certa similaridade ao momento atual foi a reversão de política monetária dos EUA entre 1993 e 2001, período marcado por crises –México (1994), Rússia (1998), Brasil (1999) e Argentina (1999-2002).
Por isso, é ainda mais importante que o Brasil mantenha políticas fiscal, cambial e monetária que assegurem trajetória cadente da relação dívida/PIB, redução dos deficits nas transações com o exterior e inflação na meta.
Com isso, poderemos adotar políticas para um novo ciclo de crescimento (baseado no aumento da produtividade e do investimento) e para enfrentar com sucesso as turbulências previstas nos mercados internacionais.
O Brasil já fez isso no passado, e o exemplo de 2008 comprova nossa capacidade de enfrentar restrições de crédito e liquidez.
Fonte: Folha de S.Paulo, 28/09/2014.
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