São 62 câmeras que compõem o sistema de vigilância da casa do empresário Rodrigo Santos no condomínio Novo Leblon, na Barra. É com investimento pesado que ele tenta impedir um tipo de crime cujos índices dispararam nos dois primeiros meses deste ano: o roubo a residência. Em comparação com janeiro e fevereiro de 2017, houve um aumento de 70% na quantidade de casos no estado, que passaram de 130 para 221, de acordo com dados divulgados esta semana pelo Instituto de Segurança Pública (ISP). E, na estatística, não estão incluídas ocorrências de furtos — crimes praticados durante a ausência da vítima. Somente no feriado da Páscoa, houve dois dentro do condomínio Santa Mônica, também na Barra. Na noite de terça-feira, um roubo a residência na Lagoa terminou com uma dupla de bandidos morta pela PM, que ainda prendeu outros três participantes da ação, dois deles feridos.
— Estou realmente preocupado. O aparato de segurança em condomínios da Barra é grande, mas uma casa da minha vizinhança, que pertence a um juiz, foi assaltada por dois homens há cerca de um mês. Parece que um conseguiu fugir, e o outro teria sido morto a tiros por um vigilante da área. A região era tranquila, mas a criminalidade aumentou muito. Aqui, bandidos roubam quase ao lado do batalhão da PM. Hoje (ontem), teve arrastão na Avenida Embaixador Abelardo Bueno. Até me ligaram, perguntando se eu estava lá. Ainda bem que não — disse Rodrigo, que já pensa em morar no exterior.
Segundo o levantamento do ISP, a estatística de roubo a residência na Barra subiu de um caso, no primeiro bimestre de 2017, para quatro, em janeiro e fevereiro deste ano. No Recreio, houve um aumento de duas para cinco ocorrências na comparação entre os mesmos períodos.
— Nessa região, está todo mundo com medo, os roubos são muito comentados por moradores. Há casos que não chegam à polícia, tem gente que prefere não fazer registro numa delegacia — afirmou um porteiro, que pediu para não ser identificado.
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INVASÕES NO FERIADO DA PÁSCOA
O início do ano passado representou um ponto fora da curva na série histórica de estatísticas de roubos a residências. O ISP alerta que existe a possibilidade de, em janeiro e fevereiro de 2017, vários casos não terem sido registrados, já que uma greve na Polícia Civil afetou o atendimento em delegacias naquele período. No entanto, as estatísticas mais afetadas durante paralisações de agentes de segurança são os crimes de pouca gravidade ou de menor perda material, como os assaltos em que bandidos abordam pedestres ou passageiros de ônibus e levam carteiras, relógios e celulares.
A delegada Adriana Belém, titular da 16ª DP (Barra), afirmou que ainda não houve caso de roubo a residência desde que tomou posse na unidade — há apenas 15 dias. Ela confirmou que houve duas ocorrências de furto no condomínio Santa Mônica durante o feriado da Páscoa.
— Não foram roubos, mas, sim, furtos. Os moradores estavam viajando, e, quando chegaram, encontraram portas arrombadas — disse a delegada, acrescentando que não daria mais informações sobre os crimes porque as investigações estão sob sigilo.
Enquanto a polícia evitava comentar os casos do Santa Mônica, um morador do condomínio Nova Ipanema contou ao “Globo” que registrou um furto praticado por bandidos que invadiram sua residência na Sexta-Feira Santa. Os mesmos ladrões teriam entrado em uma casa vizinha, cujo proprietário preferiu não prestar queixa à polícia.
— Tive um prejuízo de aproximadamente R$ 120 mil — disse a vítima que deu entrevista. — O reflexo dessa onda da violência já pode ser notado, houve um reforço significativo na quantidade de vigilantes em vários condomínios. E já soube por amigos que alguns planejam adotar o uso de biometria em alguns acessos, para a identificação dos moradores.
Recentemente, o Novo Leblon ofereceu um curso para seus funcionários no qual foram abordadas estratégias de segurança. Parte das aulas foi dada por policiais militares.
— Eles exibiram vários vídeos com situações reais de roubos e sequestros, para estarmos familiarizados com esses tipos de situação e sabermos como agir. Recebi até uma apostila — contou um vigilante. — Aqui, a segurança é pesada e teve reforço. Um portão foi fechado, mudanças para aumentar a tranquilidade dos condôminos acontecem constantemente. Dias atrás, instalaram uma cancela extra, e pode ter certeza que virão mais.
Ontem, na Lagoa, o clima era de preocupação. Para moradores, a invasão, no dia anterior, de dois apartamentos do Edifício Rougemont, na Rua Vitória Régia, foi planejado: eles relataram que homens suspeitos em motocicletas rondaram a área da Fonte da Saudade nos últimos dias. Isso deixou muita gente em alerta, o que foi fundamental para que os assaltantes fossem alcançados por policiais do 23º BPM (Leblon).
— O porteiro do prédio notou a aproximação do bando pelas imagens de câmeras de segurança e fechou o portão. Mas os bandidos tinham um controle eletrônico e o abriram. O porteiro fechou de novo e os criminosos abriram outra vez, já forçando a entrada. A movimentação foi acompanhada por pessoas que estavam nas janelas de edifícios vizinhos. Elas ligaram rapidamente para o 190 — contou um morador. — Meu irmão também telefonou, e, quando começou a falar, um atendente disse que já havia acionado o batalhão da área porque todo mundo estava chamando a polícia.
Por volta das 21h, a equipe do 23º BPM se deparou com a quadrilha na Rua Sacopã, e houve um intenso tiroteio. Os bandidos bateram com um carro, e dois foram mortos no local. Um terceiro, baleado, recebeu voz de prisão logo depois. Outros dois foram capturados: um estava no Jardim Botânico, o segundo, ferido, na Cidade Nova. Todos foram reconhecidos pelas vítimas. Um sexto assaltante conseguiu fugir.
Na manhã desta quarta-feira, era possível ver, na Rua Sacopã, dezenas de marcas de tiros em paredes e veículos. Cápsulas de balas ainda estavam no chão. Em um canteiro próximo ao local onde os bandidos bateram com um carro, foi colocada uma placa com a palavra “paz”.
— Há cerca de três meses, uma mulher que chegava de carro num prédio da região foi rendida por bandidos. Acho que os criminosos do Rio não têm mais receio de render pessoas no momento em que elas entram nos edifícios. Querem entrar nas casas, fazer arrastão nos apartamentos. Os PM agiram muito bem, foram até aplaudidos, tudo só deu certo porque tinha gente atenta na vizinhança — disse um porteiro que trabalha na Rua Sacopã.
Fonte: “O Globo”