A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou, na última quarta-feira, o projeto de lei 69/19, que determina a redução de 40% no fornecimento de sacolas plásticas não recicláveis pelos estabelecimentos comerciais do estado do Rio, no prazo de um ano.
Segundo o texto, os estabelecimentos deverão reduzir progressivamente o número de sacolas descartáveis disponibilizadas aos consumidores na proporção de 40% no primeiro ano de vigência da norma e de 10% nos anos subsequentes, até o quarto ano em que a lei estiver em vigor.
Neste período, duas sacolas serão fornecidas gratuitamente pelos próximos seis meses pelos estabelecimentos e o restante será cobrado com o preço máximo de R$ 0,08.
Depois dos canudinhos, as sacolas de supermercado foram eleitas as novas vilãs dos ambientalistas, que pretendem salvar o mundo nos privando de vários de nossos confortos.
O problema, como demonstra Bjorn Lomborg em artigo recente, é que o plástico também melhora nossa vida de várias maneiras. Em apenas quatro décadas, as embalagens plásticas tornaram-se onipresentes em nossas vidas, porque mantêm os alimentos frescos por mais tempo e reduzem as perdas de transporte. Já na área médica, os plásticos descartáveis tornaram as seringas, os frascos de comprimidos e os equipamentos de exame e diagnóstico mais higiênicos e seguros.
Parece óbvio que a não utilização do plástico descartável nos deixaria em muito pior situação, não apenas de saúde como econômica. Por isso, é preciso enfrentar os problemas sem perder de vista os benefícios, bem como atentar para as conseqüências não intencionais de certas políticas, como, por exemplo, o aumento do consumo de copos plásticos, quando se proibiu o uso de canudos.
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A ação mais simples para os consumidores preocupados com o meio ambiente é garantir que o plástico seja usado de forma eficiente, de modo que uma sacola de compras, por exemplo, tenha uma “segunda vida” como saco de lixo, reduzindo assim o uso de sacos próprios, maiores, mais pesados e com teor muito maior de plástico.
Mas são poucos os resultados que as ações voltadas aos consumidores podem alcançar. Tal como acontece com outras questões ambientais, em vez de abordar os grandes problemas, os governos se concentram em mudanças relativamente pequenas, o que significa que apenas mexemos nas margens. No Brasil, seria muito mais importante o investimento em usinas de reciclagem e tratamento de lixo, por exemplo, para substituir os grandes “lixões” a céu aberto que hoje infestam o país, do que proibir o uso de certos materiais pelo consumidor.
Até porque, mesmo que todos os países do mundo proibissem as sacolas plásticas de supermercado, isso não faria muita diferença, porque elas representam menos de 0,8% da massa de plástico atualmente nos oceanos.
Além disso, pesquisa de 2015 mostra que mais da metade dos resíduos plásticos atualmente nos oceanos vêm de apenas quatro países: China, Indonésia, Filipinas e Vietnã. O Brasil, que ocupa a 16ª posição entre 20, é responsável por apenas 1,5%. E, dessa quantidade, os sacos plásticos de supermercado representam apenas uma fração minúscula.
Ademais, a proibição de sacos de plástico pode ter resultados inesperados e inconvenientes. Um novo estudo mostra que a proibição da Califórnia elimina 40 milhões de libras de plástico anualmente. No entanto, muitos sacos proibidos teriam sido reutilizados para o lixo. Então, o consumo de sacos de lixo subiu 12 milhões de libras, reduzindo o benefício pretendido com a proibição. Também aumentou o consumo de sacolas de papel em duas vezes a quantidade economizada de plástico – 83 milhões de libras, o que levará a emissões muito maiores de CO₂.
Também precisamos considerar o impacto ambiental mais amplo de nossas escolhas. Um estudo de 2018, do Ministério do Meio Ambiente e Alimentos da Dinamarca, também citado por Lomborg, analisou não apenas os resíduos plásticos, mas também os danos causados às mudanças climáticas, ao esgotamento do ozônio, à toxicidade humana e outros indicadores. Descobriu que você deve reutilizar uma sacola de compras de algodão orgânico 20 mil vezes antes que ela provoque menos danos ambientais do que uma sacola plástica.
Se usarmos a mesma sacola de compras toda vez que formos à loja, duas vezes por semana, ainda demorará 191 anos até que o efeito ambiental total do uso da sacola de algodão seja menor do que se tivéssemos acabado de usar plástico.
Mesmo um simples saco de papel requer 43 reutilizações para que sejam considerados melhores para o meio ambiente – muito além do ponto em que a sacola será adequada para o propósito.
Também devemos reconhecer que mais de 70% de todos os plásticos que flutuam nos oceanos hoje – cerca de 190.000 toneladas – vêm da pesca, com boias e linhas compondo a maioria.
Se o objetivo é obter um oceano mais limpo, devemos pensar em ações que podemos tomar, como consumidores, para reduzir nosso uso de sacolas plásticas desnecessárias. Mas precisamos manter um senso de proporção e focar a mudança onde ela é realmente necessária.