Em entrevista à revista “Época”, o economista Samuel Pessoa falou sobre “os enormes erros de políticas públicas” que derrubam o desempenho do país em educação e criticou as medidas protecionistas do Governo Federal. Para o especialista, a mão pesada do Estado “impede que o setor privado floresça”.
Pessoa acredita que os erros brasileiros na implementação de um projeto ideal para o sucesso da educação no Brasil tem duas naturezas distintas: a economia política e a ideologia. No primeiro caso, “pela estrutura de poder e pela natureza das barganhas na sociedade nos anos 1950”. Pessoa argumenta que naquela época “o empresário queria subsídio para a indústria, o aristocrata do campo queria o empregado rural numa situação de subserviência, e o trabalhador organizado das cidades queria aumento de salário. A educação da massa que estava no campo não entrou na agenda”.
A ideologia, na opinião do economista, também foi um fator que atrapalhou o desenvolvimento da educação no Brasil. “A única pessoa que percebeu o problema, lá atrás, foi um economista liberal, Eugênio Gudin”, afirma. “A visão de mundo dos intelectuais brasileiros era achar que o subdesenvolvimento era fruto de nossas relações com o mundo, de algum mecanismo de exploração. Isso vem desde o Brasil Colônia”.
O especialista explicou que este modo de “visão de mundo”, um obstáculo para a educação, está relacionado à ideologia de esquerda: “Até hoje, a esquerda tem muita dificuldade em aceitar que a baixa qualidade da educação é o maior obstáculo a nosso desenvolvimento. Isso significa dizer que, provavelmente, as multinacionais não exploram a gente, o resto do mundo paga por nossos produtos o que tem de pagar mesmo, nós nunca fomos explorados e somos pobres por causa de erros dramáticos de políticas públicas cometidos nos últimos séculos”.
Economia
Mesmo com elogios ao governo da presidente Dilma Rousseff, Samuel Pessoa criticou medidas pontuais de incentivo a economia: “Esse microgerenciamento da política econômica praticamente torna inviável o cálculo do empresário”. O especialista explicou que o investimento privado passa por muitas dificuldades no cenário econômico nacional, seja pela incidência de impostos, seja pelas vantagens setoriais concedidas pelo governo: “Se você vai investir num setor no Brasil, precisa colocar no seu plano de negócios a possibilidade de o IPI subir, porque o governo precisa compensar um problema de algum outro setor que não tem nada a ver com o seu. Ou um concorrente seu recebe um monte de benefícios e você quebra, como ocorreu com o álcool.”
O intervencionismo do Estado e o uso de empresas estatais para regular a economia também foram citados: “Várias alíquotas de importação subiram. Há uma tentativa de segurar o preço da gasolina por meio da Petrobras. Como isso prejudica o álcool, aí é preciso compensar os produtores de etanol com incentivos. Há uma tentativa de incentivar a venda de automóveis. Reduz-se o IPI dos carros, mas isso derruba a receita. Então, o governo precisa compensar cobrando de outro setor”, finaliza.
Fonte: revista Época
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