Depois do acidente ocorrido na nova fronteira petrolífera, a segurança da exploração passou a ser questionada; as dificuldades desse trabalho são muito mais complexas
Como primeiro vazamento do pré-sal controlado, o tema dos seguros para esse tipo de operação merece ser analisado. O pré-sal não é apenas a promessa do aumento da produção de petróleo brasileira. Não se trata de prospecção tradicional, feita em terra desde a segunda metade do século 19 e no mar desde a segunda metade do século 20.
Foi no mar que a Petrobrás se tornou uma das principais petroleiras do mundo e, por causa disso, uma das empresas que melhor conhece a exploração de petróleo em águas profundas. Mas a diferença entre exploração em águas profundas e na camada do pré-sal é brutal. Os pontos comuns são apenas dois: a exploração de petróleo e ela acontecer no oceano Atlântico.
O pré-sal está muito mais fundo do que todos os outros poços de petróleo até agora explorados pela Petrobrás ou qualquer outra empresa em águas brasileiras. Quer dizer, chegar lá é muito mais complexo do que explorar poços mais rasos. Além disso, é inédito no mundo.
O Brasil é o primeiro país a se dedicar à exploração de óleo em águas extremamente profundas. Vale dizer, há pouca tecnologia para isso. É verdade, como disse o gestor de um grande fundo de investimentos norte-americano,que tecnologia é basicamente uma questão de dinheiro. Tendo financiamento ela é rapidamente desenvolvida. E oque é preciso para a decisão de realizar esses investimentos é a visualização dos lucros, o que, no caso do pré-sal, é fácil.
Assim, garantir que o pré-sal será economicamente viável em breve é chover no molhado. O duro é garantir que esta exploração não tem riscos ou que os riscos são semelhantes aos da prospecção em águas mais rasas. Não são. As dificuldades de se trabalhar em grandes profundidades são muito mais complexas. Os equipamentos devem ser mais sofisticados e mais resistentes. A perícia dos técnicos tem de ser maior. Os cuidados com segurança devem ser intensos e constantes. As garantias para perdas de todas as ordens devem ser muito bem dimensionadas.
Os seguros para a exploração do pré-sal não são produtos encontráveis nas prateleiras de todas asseguradoras, colocados à disposição de todos os segurados como uma apólice de seguro de automóvel.
Em função das ordens de grandeza envolvidas, dos equipamentos e dos riscos potenciais, esses produtos passam pela mais absoluta individualização, cada garantia desenhada especificamente para uma situação. Pode-se dividir os riscos envolvidos em três grandes grupos de cobertura.
Os riscos financeiros e de garantia, os riscos patrimoniais e os riscos de responsabilidade. Sem garantir os investimentos e o financiamento das operações não é se quer possível falar em operação do pré-sal. Ninguém investirá bilhões de dólares sem ter a certeza de que o investimento está protegido. Tam pouco haverá contratações e subcontratações sema certeza da capacidade operacional de cada um dos envolvidos e da entrega do contratado nos prazos previstos.
Só depois da certeza da contratação destas garantias é que se pensará nos seguros patrimoniais destinados a proteger os equipamentos a serem utilizados e que vão de singelas bombas de porão até perfuradoras de grande profundidade, além da tubulação para trazer o óleo para a superfície, passando pelas plataformas e por dezenas de milhares de equipamentos, ferramentas, parafusos, porcas, etc., indispensáveis ao processo.
Ainda dentro dos riscos patrimoniais, é fundamental se ter seguro que garanta a interrupção da produção, pelas mais diversas causas. Finalmente, existe toda uma gama de riscos de responsabilidade civil que não pode ser descurada, inclusive porque é aí que podem residir as maiores indenizações.
Dada a complexidade das garantias e os valores envolvidos, não há como se imaginar que uma única companhia de seguros terá condições de desenvolver e assumir todos os riscos. O pré-sal terá seus seguros viabilizados pela participação de um grande número de companhias, capazes de dar a capacidade financeira e a tecnologia necessárias.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 27/02/2012
O fato é que, enquanto a British Petroleum enfrentava um vazamento sério e de consequências imensuráveis, nenhuma outra empresa, nem a Petrobras, com sua propalada tecnologia em perfurações no mar, deu ou ofereceu ajuda. Concluímos: não há tecnologia disponível para evitar ou controlar um desastre no pré sal. Político e economicamente, já estamos até brigando pela divisão dos royalties.