Defensor de um plano que inclui impostos de importação menores, o economista Edmar Bacha admite que alguns setores da indústria vão se adaptar à mudança e outros, não. Mas diz que “a seleção de vencedores ou perdedores não será feita pelo BNDES”. Bacha, que é filiado ao PSDB, afirma que o governo atual não tem estratégia para o futuro.
Como seria o “Plano Real para a indústria”, conforme publicou o jornal “Valor Econômico”?
Hoje temos Pibinho com inflação alta e desindustrialização. Proponho que a indústria se recupere. É focado na indústria, mas o objetivo é retomar o crescimento com baixa inflação.
Como seria a forma de atuação?
É uma proposta para ser implementada num período de oito anos. Primeiro, é preciso reduzir a carga tributária para a indústria. Para que seja de forma efetiva, é necessário ajuste no orçamento do governo. De nada adianta desonerar com elevação de déficit fiscal. Isso só aumenta a dívida pública. Poderíamos ter um período até 2020 com o gasto público crescendo 2% ao ano, para uma expansão da economia de 4%.
O plano também prevê redução de tarifas de importação, não?
Proponho uma troca da proteção da indústria pelo câmbio. Temos tarifas elevadas de importação, exigência de conteúdo nacional alto e normas técnicas que dificultam a entrada de produtos estrangeiros. A norma da tomada de três pontos, por exemplo, é só do Brasil e só serve para dificultar a importação de eletrodomésticos. Isso deve aumentar importações, e o mercado vai vender real e comprar dólar, gerando desvalorização do real. Para isso, teremos um câmbio verdadeiramente flutuante.
Também é preciso avançar nas negociações comerciais?
Essa é a terceira área. O Brasil é uma economia ainda muito fechada. O que é fundamental é anunciar e explicar tudo antecipadamente. Na mesma linha do Plano Real: ‘Só vamos fazer o que anunciar e só vamos anunciar o que vamos fazer’.
A redução de impostos de importação não pode colocar em risco alguns setores da indústria?
Obviamente é preciso ter acompanhamento e políticas compensatórias para ajudar na transição. Globalmente, essas propostas preveem um crescimento maior. E vai ter mais dinheiro para compensações. Algumas indústrias vão se adaptar, outras, não. E terão que mudar de ramo.
Pode haver seleção de ganhadores e perdedores?
Será seleção de vencedores e perdedores, mas não mais pelo BNDES.
Por que as desonerações para a indústria não têm sido suficientes para estimular a economia?
Hoje não tem plano, não tem estratégia, não tem visão de futuro. Eles (o governo) estão pregando prego no buraco.
Fonte: O Globo
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