Ao contrário da expectativa generalizada dos operadores do mercado e dos analistas da economia, que previam queda da taxa Selic para 6,25%, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu mantê-la em 6,5%.
Havia razões tanto para reduzir quanto para manter a taxa. Do lado da redução, figurava a ausência de riscos de não cumprimento da meta para inflação (4,5% em 2018). A perda de dinamismo da economia nas últimas semanas inibe a transferência, aos preços, dos efeitos da desvalorização do real e do aumento dos combustíveis, mesmo que estes subam um pouco mais por causa das cotações mais altas do barril de petróleo. Lembre-se que a inflação nos últimos doze meses está abaixo de 3%.
Mesmo que a desvalorização do real levasse o dólar para as proximidades de R$ 400, o impacto na inflação seria da ordem de 0,5%. Ao mesmo tempo, o Banco Central conseguiu quebrar a espinha dorsal da inflação de serviços, que começou o ano acima de 6% e caminha para um pouco mais de 3% no final do ano. Por tudo isso, o BC poderia ter promovido a queda de 0,25 ponto percentual na Selic.
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Existiam razões também para manter a Selic. Como disse o BC, a normalização da política monetária dos países ricos tornou o ambiente externo mais volátil e desafiador. O menor apetite por ativos de países emergentes introduziu uma mudança de patamar para a sua taxa de câmbio. Nesta quinta-feira, a moeda americana passou de R$ 3,70 em
alguns momentos. Dificilmente voltaremos ao dólar de R$ 3,15 de seis meses atrás.
Até aí tudo bem. A decisão do Copom tem inequívoca justificativa. O problema é que o presidente do BC, em entrevista semana passada, foi muito enfático quanto ao foco da política monetária (inflação), dando a entender que não enxergava riscos no front dos preços. Dada a alta credibilidade de Ilan Goldfajn, os mercados fizeram uma aposta firme na queda da Selic para 6,25%.
No regime de metas para a inflação, a confiança no que diz a autoridade monetária é essencial para a coordenação de expectativas e, assim, para atingir a meta. Como disse Luís Eduardo Assis, ex-diretor do Banco Central, “o Copom deu seta para a esquerda e virou à direita”. Quem fez posições confiando na entrevista perdeu dinheiro.
O presidente do BC construiu um invejável capital de credibilidade e não será sua entrevista que vai arranhar gravemente sua imagem, mas um pouco de confiança foi perdida nesse episódio.
Fonte: “Veja”, 17/05/2018