Nem Serra, nem Dilma. Pela evolução das pesquisas de intenção de voto, o favoritismo na corrida presidencial é de Selma – a criatura tucano-petista.
A esquizofrenia aparece claramente na última pesquisa Datafolha. No período de maior crescimento da candidata do governo, 83% dos eleitores dizem não conhecê-la muito bem.
Seria uma aposta em massa no corredor mascarado?
Já José Serra, a quem um número bem maior de eleitores diz conhecer muito bem (o dobro da adversária), está em queda – num momento em que pouco aparece em público. Seria isso um ato súbito de arrependimento em massa do eleitorado que o aprovava?
Com a redução da diferença entre os dois candidatos para apenas quatro pontos (pró Serra), tucanos arrancam as penas e petistas encomendam o terninho da posse. Não notaram um detalhe: esses números não querem dizer nada. Absolutamente nada.
A campanha presidencial está na fase da sopa de letrinhas. Cinco para lá, cinco para cá. Com a singela diferença de que as cinco que começam com D estão todo dia na boca de São Lula.
O incrível crescimento das intenções de voto em Dilma, num eleitorado que mal a conhece, apenas mimetiza o megafone do filho do Brasil. O povo pode ser trouxa, mas nem tanto.
Ainda terá bastante tempo para saber, por exemplo, que Dilma é José Dirceu no poder. E Dirceu, ao contrário de sua companheira de armas, é bem conhecido do eleitorado – pelo conjunto da obra, que já era expressivo, e pelos retoques recentes, como a negociata da Eletronet.
Para o bem ou para o mal, Serra também ainda vai sair da sombra. Exibindo seu sorriso de filme de terror, mas mostrando também suas credenciais para a presidência – que não são feitas de botox e maquiagem paraguaia.
Há uma inflação de teses pré-fabricadas no ar. Ciro Gomes era o fiel da balança – mas só até ontem. Agora é Aécio, talvez até depois de amanhã. Talvez os terremotos sejam efeito do aquecimento global, e a culpa seja do Fernando Henrique. Vamos com calma.
Esperem ao menos os dados rolarem. E desfazerem a sopa de letrinhas. Serra com Dilma dá Selma. Isso pode dar samba, mas não dá voto. Eleição não é uni-duni-tê.
(Publicado em “Época”)
Que tristeza ver uma pessoa que achava séria, fazendo parte dessa TFP que é esse instituto.