Levei um choque na manhã em que li a notícia estampada na primeira página da “Zero Hora”, como faço todos os dias, segundo a qual o pior resultado apurado pelo Ministério da Educação mediante a avaliação processada pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) estava no sul do país. Eu não ignorava que a qualidade do ensino sul-rio-grandense estivesse em nível pouco desejável, mas também não esperava que lhe fosse reservada esta deplorável qualificação, até porque o resultado nacional não é lisonjeiro… Basta dizer que foram tímidos os avanços no Ensino Fundamental, que envolve 98% dos alunos entre 7 e 14 anos, e em relação ao Ensino Médio, que atende os jovens de 15 a 18 anos, foi de estagnação. Neste quadro geral e neste cenário, forçoso é reconhecer, é lamentável a posição do ensino na Província de São Pedro.
Ela é tanto mais desairosa quando o ensino no Rio Grande era um dos dois melhores em todo o Brasil, tempos que lembram o saudoso secretário Coelho de Souza. A verdade é que hoje a realidade é outra e a indagação que deve ser feita é como e por que isto ocorreu. Dispensável dizer que a causa não será única, mas várias como só acontecer, e não será no espaço de um artigo que se poderá apontá-los. Com esta ressalva, mencionarei apenas um. Não direi novidade que o ensino supõe a conjugação de variados elementos, a partir do professor, a cordialidade, o respeito, a cordura, a serenidade, o exemplo, sem falar na competência referente ao que ensina e na maneira de ensinar e em quanta coisa mais. Ora, parece-me inegável a emergência de um fator novo, pouco ou nada compatível com as qualidades exemplificativamente aludidas, que chamarei de belicosidade, na ausência de melhor designação. Ontem não entrava no colégio, hoje tomou conta do ensino e foi além. O ensino e a belicosidade são incompatíveis. Não sei se diga que na medida em que o ensino se foi desfigurando a belicosidade crescente ou se na medida em que a belicosidade chegou à sala de aula a qualidade do ensino entrou a mermar. O fato é que parece ter havido uma convergência da violência com o declínio da qualidade do ensino. A violência ou a belicosidade tem ou vem tendo várias modalidades, inclusive a do sindicato ou que outro nome tenha. Não ignoro que a menção a este dado poderá desagradar a um ou outro setor, mas tenho o hábito de dizer o que penso ainda que pedindo desculpas pelo eventual desgosto que possa causar. Estou convencido de que o sindicato consorciou-se com o ensino, impurificando o ambiente com seu mau hálito. Um fato é inconteste: o sindicato agigantou-se e o ensino decaiu.
A propósito, lembro que quando a senhora presidente mostrou-se desgostosa com a aferição do PIB em determinado triênio e sua influência com o PIB do ano de 2012, desprezou-o publicamente, como se a sua medição tivesse alguma culpa no caso, e não se limitasse a medir o que vira e sentira, preferindo os maravilhosos benefícios da educação como critério a revelar as realidades nacionais, lembrei que além da educação nada ter com o pífio resultado do PIB, e o que era mais, o ensino brasileiro não estava em condições de recomendar o país. Infelizmente, ficou confirmado que a emenda fora pior que o soneto. A senhora presidente ficaria melhor servida se voltasse ao PIB como é em todo o mundo e também na Alemanha, na França e na Itália, que são as três maiores economias da Europa, e ainda na Espanha e no Reino Unido tiveram “crescimento negativo” e nem por isso romperam relação com o respectivo PIB.
O PIB mostra que o momento presente é grave, tanto que aí está o perigo da desindustrialização. Os dados do ensino alarmam, pois sem educação não temos futuro.
Mal no presente, comprometidos para o futuro, será que nos resta só o passado?
Fonte: Zero Hora, 20/08/2012
Declínio da qualidade do ensino e belicosidade. Creio ser inegavel que ambas sejam correlatas.
O problema é tentar chegar às causas mais provaveis.
A deficiência do ensino básico elementar é o sério entrave à formação de novas gerações de brasileiros capacitados a exercer a sua cidadania, entendida no mais amplo sentido, desde a sua proficiência profissional até a sua capacidade de escolher adequadamente os seus representantes, como gestores de uma sociedade pretensamente democrática.
Nesse ambiente, o avanço dos aventureiros do poder e o clima criado de avidez e corrupção retira da cena toda idéia de meritocracia.
Diante do tsunami de malfeitos provindos do topo da pirâmide social, cujo reflexo se derrama de alto a baixo, resultam a apatia, o cinismo, a violência, a ignorância induzida com que a sociedade responde.
Para evitar a virtual tomada da Bastilha, seria necessário contrapor a outra Revolução, não a das armas, mas a Educacional.
Concordo com voce Marcello. Sou professora universitaria e sinto o quanto é dificil vc trabalhar com o jovem que vem tao pouco preparado do ensino medio. E nao adianta apenas professores cordiais e competentes. Afinal, quando um professor “tenta” trabalhar a cidadania, a humanizacao, o respeito e a ética, alem dos conteudos programaticos de sua disciplina, vem os pais e chegam a “vias de fato”, agredindo verbal e braçamente os pobres “operarios da educação”, chamados, gentilmente, de professores. Para mim, o que falta melhorar no ensino basico ou medio, é: FAMILA PRESENTE. É GOVERNO PRESENTE. É PROFISSIONAL PRESENTE. Tenho serias duvidas quanto ao futuro de nossos jovens.