Claro, pertinente e oportuno, o artigo de Pedro Ferreira e Renato Fragelli (“Corrupção, reformas e estagnação”)hoje no Valor merece ser lido por quem tenta entender o péssimo desempenho da economia brasileira e busca um futuro melhor para o país.
De forma bastante sintética, os autores atribuem a estagnação econômica em que o Brasil mergulhou desde a década de 1980 à “voracidade do patrimonialismo que caracteriza a atuação da direita” e à “volúpia do corporativismo que mobiliza a esquerda”. Nos dois casos, grupos extraem recursos do Estado em grande quantidade e em benefício próprio, de uma forma que, se não é ilegal como com a corrupção, é também prejudicial ao crescimento e à melhoria das condições sociais. Para bancar essa conta é preciso elevar a carga tributária, que fica também mais complexa, também por essa via desencorajando o avanço da economia e abrindo novas portas para a corrupção.
Não há como discordar da avaliação de Pedro e Renato. Minha ponderação se dá em relação ao último parágrafo, onde os autores avaliam que as reformas não passarão no governo Temer, lamentam não ser possível constitucionalmente antecipar as eleições, mas concluem:
“Se o preço a pagar pelo seu adiamento (das reformas) por um ano e meio for o desmantelamento, mesmo que parcial, pela Lava-Jato, de instituições que atrasam o desenvolvimento do país, o saldo já será bastante positivo”.
Não creio que seja essa a posição dos autores, mas tenho receio de que daí se derive a ideia equivocada de que as reformas são do governo Temer e que não é possível apoiar um sem fazer o mesmo com o outro. Esse é um falso dilema. Quem precisa das reformas é o Brasil, não o governo, entre outras razões pelas que os próprios autores citam. A Lava Jato não muda essa conclusão, nem as reformas atrapalham a Lava Jato.
Paradoxalmente, quem tem a ganhar com esse falso conflito são a direita voraz e a esquerda voluptuosa tão criticadas pelos autores, que outra vez veem aumentar o espaço para perseguirem seus agendas. E, claro, quem quer fazer política em cima das investigações, aproveitando o espaço que ocupam na mídia. Não podemos deixar isso acontecer. Temos de manter as reformas na ordem do dia e sua apreciação, pela sociedade e pelo Congresso, tem de avançar.
Fonte: Blog do Armando Castelar, 21/06/2017.
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