A política, salvo honrosas e raríssimas exceções, é vista como um antro de desonestidade, clientelismo e corrupção. Ocorre que nem sempre foi assim; houve um tempo em que ser político representava alta intelectualidade, honradez e decência inquebrantável. Algo mudou, e parece que para pior. Mas quais seriam as causas da vertiginosa decadência da vida pública nacional? Ora, todo fenômeno complexo não possui apenas uma única explicação. Aliás, é justamente o somatório de causas e concausas que materializam a complexidade de uma dada situação. Logo, em vez de explicações rasteiras, precisamos da profundidade do pensamento crítico.
Nesse contexto, entre as variadas causas do problema, destacam-se dois aspectos de maior relevo: a falência dos partidos e a ausência de lideranças. Na verdade, tais aspectos são inter-relacionados, pois, sabidamente, a falta de líderes de envergadura gera o ocaso partidário. Em outras palavras, sem bons políticos não há bons partidos. E sem bons partidos a política vira um cinzento desfile de mediocridades insossas. Sobre o ponto, cabe lembrar que o partido é uma espécie de escola da vida pública, ou seja, é o local onde se deve preparar o político em forma bruta, selecionar os mais vocacionados e estimular uma prática política alta, digna e voltada aos melhores interesses da nação.
Acontece que, infelizmente, nossas lideranças e personalidades superiores abandonaram a seara política. Sem cortinas, o desenvolvimento do mercado acabou por atrair os mais capazes à vida privada, abrindo um vácuo cultural na vida pública. A questão é que mercado e política não são líquidos imiscíveis, mas ativas forças complementares. Por consequência, uma política bem exercida finca as bases institucionais necessárias para um progresso econômico duradouro. Agora, quando a política fica fútil, a economia passa a viver de ganhos baratos.
Portanto, precisamos resgatar a participação política de nossas lideranças intelectuais. A democracia, além de um sistema político plural, é substancialmente um valor moral que procura resguardar a liberdade e alargar a conscientização cultural do povo. Dessa forma, enquanto os mais capazes se omitirem do dever de participar efetivamente dos assuntos públicos de nosso país, os desafortunados e oprimidos seguirão sendo presas fáceis para governos tacanhos que fazem da mentira uma arma de perpetuação no poder. Até quando, então, alguns poucos mal-intencionados prejudicarão o futuro de muitos cidadãos inocentes?
Fonte: Gazeta do Povo, 3/8/2014
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