O Tesouro Nacional terá enorme desafio em honrar suas obrigações financeiras em 2021. O rápido aumento do estoque da dívida pública federal, combinada ao encurtamento dos prazos, aponta uma trajetória muito preocupante nos vencimentos dos títulos nos próximos meses.
Este começo do ano será difícil: até abril, o volume acumulado de títulos a vencer da dívida interna será de R$ 668,9 bilhões, um aumento de 88% em relação aos R$ 354,5 bilhões de 2020. Para o ano todo, o próprio Tesouro projeta que o total de vencimentos será de R$ 1,310 trilhão, uma alta de R$ 527 bilhões ante os vencimentos acumulados de R$ 782,9 bilhões em 2020.
O aumento no ritmo e na tendência de endividamento entre 2021 e 2020 sugere que o Brasil talvez esteja adentrando em trajetória de dominância fiscal. Se isso ocorrer, o uso da Selic como instrumento de política monetária perde sua eficácia. O resultado seria a volta de um processo inflacionário, que seria tanto maior quanto maior for o desequilíbrio fiscal e o endividamento público.
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Não estamos lá ainda, mas o recente aumento da inflação acendeu sinal de alerta. Como exemplo, mesmo com IGP-M anual de 23% e inflação do IPCA de 4,4%, o Banco Central permanece com a Selic de 2% ao ano. Quem diria: o Brasil, campeão de taxas de juros reais, atualmente com taxa negativas. Juros baixos têm aliviado o custo da dívida, mas esse benefício é temporário, uma vez que o BC deve começar a elevar os juros este ano. A Tendências revisou sua expectativa para a Selic em 2021, que passou a contemplar o primeiro aumento em setembro e taxa de final de período em 3,5%.
Importante que nossos políticos, dos poderes executivo e legislativo, tenham em mente o enorme risco de crise fiscal e econômica sendo construído caso não avancemos com reformas fiscais estruturais, evitando assim caminharmos para um cenário semelhante ao da Argentina.
Fonte: “Estadão”, 06/01/2021
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