Mais uma semana infernal para os mercados. A bolsa de valores operou no negativo, na sexta-feira passada (dia 21) transitando em torno de 45 mil pontos, o dólar passou, em alguns momentos, de R$ 3,50, o “risco país” operou próximo a 320 pontos, e os mercados futuros, de juro e câmbio, tanto no curto como no longo prazo, fecharam “esticados”, em meio a uma total falta de rumo do governo. Este é, aliás, um ponto a ser ressaltado.
Vivemos uma profunda crise de confiança, sem conseguir enxergar o que deve acontecer nos próximos meses. O governo, isolado e engolfado por uma profunda perda de popularidade e apoio político, parece não encontrar uma saída. Para piorar (e ainda pode piorar muito!), a crise é dupla e simultânea, derivada dos descaminhos da gestão econômica no primeiro mandato, da deterioração atual, mas também fruto da incapacidade de articulação da presidente, o que se reflete no duro embate entre ela e parte do Congresso, neste caso personificado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
Na semana passada, Cunha até tentou criar algumas “pautas bombas”, não tão ruins assim, como no caso do novo indexador para o FGTS, sugerindo a correção pela caderneta de poupança mais TR, e não mais pelos 3,5% mais TR. Acabou, no entanto, denunciado pelo Ministério Público por receber propina de empreiteiras envolvidas no Lava-Jato, o que pode abreviar seu protagonismo nesta crise. Tudo leva a crer que a sua renúncia da presidência da Câmara seja uma questão de tempo, embora muitos não vejam bem assim diante do lento trâmite da Justiça. Neste ponto, parece ter sido bem-sucedida a estratégia do governo de se aliar ao Presidente do Senado Renan Calheiros, com sua tosca Agenda Brasil, um esforço de desviar o foco e isolar ainda mais o presidente da Câmara.
Reforçando isto (e tentando atuar em contraponto), Calheiros aprovou o projeto de lei de “reoneração” da folha de pagamentos em vários setores da economia, mesmo que aceitando a retirada de cinco deles por pressão política (isto preocupa, por ser um precedente para outros também exigirem o mesmo tratamento diferenciado). Chamou atenção na semana passada, no entanto, o anúncio pelo governo de uma linha de crédito especial dos bancos públicos, de R$ 14 bilhões, para a indústria, com especial atenção para o setor automotivo, um dos mais impactados pela crise. Dados do IBGE indicam que foram mais de 35 mil empregos perdidos por este setor em junho. Muitos viram nesta medida, anticíclica e keynesiana, o resgate daquelas adotadas no passado recente. Outros setores também podem ter este benefício, desde que parem de demitir. Difícil acreditar, no entanto, que isto seja viável, até porque estamos observando uma “desalavancagem” da economia, com os agentes desmobilizando recursos e agindo com mais cautela diante da crise atual.
[su_quote]Será um ano de 2016 inteiro no negativo[/su_quote]
Num cenário de total incerteza, o que os agentes mais fazem é reduzir o endividamento, adiar compras e poupar, agir com cautela diante da possibilidade de piora de cenário, de desemprego e perda de renda. E tudo só piora diante da total falta de confiança nas ações do governo.
É como bem disse John Maynard Keynes, quando da análise sobre a crise de 29 e a depressão nos anos 30: “o que move a economia, os investimentos, o consumo, é a confiança e um ambiente transparente e previsível”. No caso dos empresários, é a velha “eficiência marginal do capital”, ou seja, a capacidade de prever o que vai acontecer no futuro, tornando possível (ou não) o despertar do velho espírito animal (animal spirits). Tudo que não existe hoje em dia. Muitos se apressarão em considerar que superando a crise política e tirando Eduardo Cunha da frente, tudo se resolverá. A saída de Cunha até deve acontecer, depois da denúncia do Ministério Público, mas claro que não é só isto.
No desempenho da economia real, o cenário que se tem já é de recessão. Isto ficou bem claro depois do IBC-Br de junho, mostrando um recuo de 0,6% contra o mês anterior, 2,6% no ano e 1,6% em 12 meses. Como este indicador do BACEN é uma espécie de prévia do PIB cheio, este fraco desempenho deve se repetir nos dados a serem divulgados pelo IBGE nesta semana sobre o PIB do segundo trimestre. Muitos acreditam que o PIB, depois de recuar 0,2% no primeiro trimestre contra o anterior, e 0,9% contra o mesmo do ano passado, deve vir negativo no segundo, em torno de 1,2% contra o anterior e acima de 2% contra o mesmo do ano passado.
Para o BACEN e parte do mercado, “a economia brasileira deve ficar próxima, mas ainda não no vale do crescimento”. Este “fundo do poço” seria atingido entre o terceiro e o quarto trimestre deste ano. A pesquisa Focus, por exemplo, trabalha com retração de 2,0% neste ano e algo em torno de -0,1% em 2016 e esta Consultoria uma retração maior, mais próxima a 2,5% neste ano e 0,5% em 2016, não sendo surpresa se for pior.
Não estamos recuando sob a forma de “V”, mas sim de “U”, ou mesmo “L”, na qual se tem uma estagnação, quase uma “prostração”, sem que a retomada se mostre possível. Na verdade, estamos na “bacia das almas” em termos de confiança. Quase todos os indicadores estão piorando. Isto nos leva a acreditar num PIB ainda recuando ao longo deste segundo semestre, até na contramão da lógica, já que este costuma ser um período sazonal de recuperação. Somado a isto, a perda de empregos ainda deve ser mais sentida na economia, até porque esta é uma das últimas variáveis a afetar a atividade. Pelo IBGE, a taxa de desocupação de julho chegou a 7,5% da PEA e deve passar de 8% ao final do ano. Isto deve vir junto com os dados de emprego do setor industrial, neste primeiro semestre recuando 5% e do Caged, no negativo em 345 mil postos de empregos formais cortados.
O desafio então será encontrar uma saída para 2016. Muitos acham que dependendo do sucesso dos ajustes e das costuras políticas em curso, daria para pensar numa retomada, mas esta só deve se materializar, possivelmente, no final do ano. Será um ano de 2016 inteiro no negativo. Mas como o cenário continua muito turvo, como enxergar esta retomada?
Esta é a pergunta que todos se fazem. Para a semana que vem tentaremos, depois da divulgação do PIB do segundo trimestre, construir nossos cenários para os próximos anos.
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