No primeiro turno das eleições 2018, quando dois terços das cadeiras do Senado foram postas para votação, 46 dos 54 cargos disponíveis foram ocupados por novos nomes, o equivalente a 85%. Essa é a maior renovação desde o fim da ditadura militar. Além disso, dos 32 parlamentares que tentaram a reeleição, somente oito conseguiram novo mandato, entre eles Renan Calheiros, do MDB de Alagoas, Ciro Nogueira, do PP do Piauí e Humberto Costa, do PT de Pernambuco.
Nomes como Valdir Raupp (MDB-RO), o atual presidente da Casa, Eunício Oliveira (MDB-CE),Roberto Requião (MDB) do Paraná, o ex-líder do governo Michel Temer, Romero Jucá (MDB-RR), Lindbergh Farias (PT-RJ) e Magno Malta (PR-ES) tentaram a reeleição, mas não obtiveram um novo mandato. Além deles, a presidente cassada Dilma Rousseff (PT) tentou vaga por Minas Gerais, os ex-governadores de Paraná e Goiás, Beto Richa e Marconi Perillo, ambos do PSDB, tentaram uma vaga no Senado, mas não conseguiram.
O professor Luiz Bueno, da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), avalia que o impacto dos escândalos de corrupção e o comportamento inadequado de figuras políticas tiveram efeito no momento do voto. “As pessoas levaram a sério a questão da corrupção. Figuras muito tradicionais não conseguiram cargos e isso é um marco da nossa história, uma coisa inédita. Além disso, o espectro não focou em um só partido”. Segundo ele, os números servem de alerta, já que três em cada quatro senadores que tentaram a reeleição não renovaram seus mandatos.
“Com os meios de comunicação, a atuação do Ministério Público e as redes sociais, daqui para a frente o cargo deles não está mais tão assegurado como parecia”. Para o professor, o movimento é fruto das manifestações de 2013, que demonstraram a insatisfação das pessoas com a política.
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Apesar do número de novos nomes ser histórico, somente 12 senadores eleitos representam uma real renovação da Casa, por não terem registro de atividades políticas anteriores a este ano. Nomes como o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), Cid Gomes (PDT), ex-governador do Ceará e Ministro da Educação e Jader Barbalho (MDB), ex-ministro e ex-governador do Pará estão entre os novatos do Senado, porém longe de significarem uma renovação na política nacional. Outros casos são de atuais deputados federais alavancados para o Senado, como é o caso de Mara Gabrilli (PSDB) em São Paulo, Eliziane Gama (PPS) no Maranhão e Rodrigo Pacheco (DEM) em Minas Gerais.
A composição do Senado a partir de 2019 terá 12 cadeiras do MDB, oito do PSDB, sete do DEM, seis do PSD, seis do PT, seis do PDT, seis do PP, cinco da Rede, cinco do PSB, quatro do PTB, quatro do PSL, três do PSC, dois do PPS, dois do PR, dois do PHS, um do PROS, um do PRP, um do Podemos, um do PRB, um do SD. A lista inclui os senadores eleitos em 2014, que somente perderão o cargo após as eleições de 2022.
Resultado se deve ao impacto da Lava Jato, diz cientista político
Dos 46 eleitos no domingo, 12 estão na política pela primeira vez ou já foram eleitos vereadores. O empresário Eduardo Girão (PROS) do Ceará encabeça a lista, seguido pela ex-jogadora de vôlei da seleção brasileira Leila do Vôlei (PSB) no Distrito Federal, Fabiano Contarato (Rede) e Marcos do Val (PPS), ambos no Espírito Santo, Jorge Kajuru (PRP) e Vanderlan (PP), ambos em Goiás, Juíza Selma Arruda (PSL) no Mato Grosso, Soraya Thronicke (PSL) no Mato Grosso do Sul, Carlos Viana (PHS) em Minas Gerais, Prof. Oriovisto Guimarães (Podemos) no Paraná, Capitão Styvenson (Rede) no Rio Grande do Norte e o Delegado Alessandro Vieira (Rede) em Sergipe.
Para o cientista político Pedro Costa Jr, professor das Faculdades Integradas Rio Branco, o resultado se deve ao impacto da Operação Lava Jato, a “grande vencedora dessas eleições”. “Ela provocou um ódio à política tradicional e, com isso, abriu espaço para o novo em todas as suas matizes possíveis: militares e empresários, por exemplo”.
Para ele, a operação foi um golpe na velha política que, representada por “velhos caciques”, acabou sendo derrotada nas eleições 2018. “Estamos vivendo um novo paradigma, um desejo pelo novo. O impacto das denúncias foi arrasador. É preciso, agora, ver como as siglas não tradicionais vão ocupar esse vácuo deixado pelos antigos. Ser novo não significa, necessariamente, ser bom”.
Fonte: “O Estado de S. Paulo”