Às vésperas do encontro da presidente Dilma Rousseff com o presidente Barack Obama, que deve acontecer em Washington na próxima terça-feira, dia 25, em Nova York, o ministro da Fazenda Guido Mantega criticou a decisão do Fed, o banco central americano, de espalhar dólares pelo mercado — medida que pode obrigar o governo brasileiro a tomar providências drásticas (e onerosas) para impedir uma supervalorização do real.
A intenção do Fed é gastar até US$ 40 bilhões por mês para comprar títulos imobiliários hoje em poder de bancos. Um dos efeitos colaterais dessa estratégia é que o dólar voltará a custar uma ninharia em relação a outras moedas (inclusive o real) e, com isso, todo o esforço feito até aqui na tentativa de aumentar a competitividade da indústria nacional poderá ir por água abaixo.
Seria lamentável e obrigaria o governo a tomar providências emergenciais (como os leilões cambiais promovidos pelo Banco Central) – muito embora a eficácia desse tipo de medida seja posta em dúvida por algumas autoridades no assunto.
Entre elas, o professor Antônio Delfim Netto. “É uma ilusão imaginar que alguém seja capaz de controlar o câmbio”, disse Delfim ontem em São Paulo. “O melhor a fazer é esperar o mercado encontrar seu ponto de equilíbrio.”
A questão está justamente aí. É evidente que, ao criticar a decisão americana de estimular o crescimento pela via do consumo (sem dar muita importância para o impacto dessa decisão sobre outras economias), Mantega não falou apenas em seu nome.
O que ele disse vai na linha daquilo que o governo brasileiro pensa a respeito desse problema e faz coro com a crítica ao “tsunami monetário” feita pela presidente Dilma meses atrás. O governo brasileiro está certíssimo ao reclamar.
Mas a possibilidade de suas queixas levarem o governo americano a voltar atrás é mais ou menos a mesma que ouvir do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva um elogio ao candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, José Serra. Ou seja: nenhuma.
O Fed continuará continuar seguindo seu caminho e Obama nada fará para fazê-lo mudar de ideia. E o Brasil, como fica nessa história?
Bem. A questão de fundo é que providências emergências (como as que o governo brasileiro vem tomando para tentar estimular sua economia) sempre correm o risco de não produzir efeitos diante de uma mudança súbita no cenário internacional.
Situações de crise, como a atual, exigem, sim, providências emergenciais. Mas também oferecem uma oportunidade de ouro para que se tomem providências de longo prazo, capazes de tornar o mercado, no futuro, mais protegido contra esse tipo de oscilação. O governo brasileiro tem se saído bem na missão de apagar incêndios. Precisa, agora, aprender a evitá-los.
Fonte: Brasil Econômico, 19/09/2012
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