No mesmo dia em que os vereadores do Rio encerraram oficialmente as atividades no plenário para o recesso de fim de ano, que vai até 15 de fevereiro de 2014, todos os servidores da Casa ganharam um presentão. A Mesa Diretora publicou nesta segunda-feira em Diário Oficial uma resolução dando uma gratificação de R$ 868 para “o incremento das despesas de alimentação em decorrência dos gastos necessários para a organização de ceia natalina”. A assessoria de imprensa da Câmara não informou o valor total que será gasto com o benefício, mas, levando em conta o número de funcionários divulgado no Portal da Transparência do site da Casa (2.194), o custo será de cerca de R$ 1,9 milhão para os cofres públicos.
Somente com cada gabinete dos 51 vereadores — cuja maioria é formada por funcionários comissionados, admitidos sem concurso público —, o gasto com a benesse para encorpar a ceia de Natal vai variar entre R$ 17,3 mil (para os que possuem 20 servidores) e R$ 26 mil (para os que possuem até 30). A quantidade varia porque, há cerca de três anos, a Casa permitiu que alguns cargos fossem divididos. Os R$ 868 equivalem a um auxílio-alimentação que já é pago mensalmente aos servidores. Ou seja, agora em dezembro, os profissionais receberão dois auxílios deste valor. Os próprios vereadores não estão incluídos na gratificação.
Nem o presidente da Câmara, Jorge Felippe (PMDB), o 1º vice-presidente Luiz Carlos Ramos (PSDC) ou o 1º secretário, Dr. Jairinho (PROS), que assinaram a resolução, quiseram comentar a medida. Apenas a assessoria de imprensa da Casa enviou uma nota afirmando que “a exemplo de outras instituições públicas municipais, estaduais e federais, beneficiará seus servidores, visando a valorização dos funcionários, dentro da Política de Gestão de Pessoas da instituição”. Mas na vizinha Alerj, por exemplo, a assessoria de imprensa informou que não há qualquer previsão de gratificação de Natal. Já a prefeitura deu a 160.283 servidores um cartão Cesta de Natal, de R$ 118, para ser gasto em supermercados até o fim de fevereiro.
O dinheiro extra deve dar uma boa turbinada na ceia dos funcionários. É possível comprar, por exemplo, entre 17 e 20 perus de 3kg. Um dos kits de Natal mais caros do Supermercado Zona Sul — que sai por R$ 629,96 em seu site na internet e tem entre seus 30 itens chocolate Lindt e lombo de bacalhau norueguês — pode ir tranquilamente para a sacola com direito a um belo troco. Quem quiser ainda pode comprar duas cestas Leblon, a mais cara do Farinha Pura da Cobal do Humaitá: são 25 itens como um espumante Veuve du Vernay e uma geléia Queensberry por R$ 349,90.
Para a vereadora Teresa Bergher (PSDB), o servidor deve ser valorizado, mas o peru da Câmara veio “gordo demais”:
— A primeira coisa para um benefício assim seria estabelecer um teto.
Afinal de contas, o patrão, que é o cidadão que paga os impostos, não foi consultado. Um valor como esse é difícil até de se encontrar em empresas privadas.
Já Jefferson Moura (PSOL) afirma que em vez de dar abonos, a Casa deveria se preocupar numa valorização mais ampla da carreira do servidor da Câmara, investindo principalmente em concursos públicos:
— O abono numa casa política pode levar à interpretação de que o investimento público está a serviço de interesses outros que não da própria valorização da carreira.
Fonte: O Globo
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