Atividade considerada essencial no dia a dia dos brasileiros e em evidência em tempos de pandemia, o setor supermercadista contribui de forma significativa para os indicadores econômicos.
Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística- IBGE, o setor apresentou, em janeiro de 2021 (1,6%) maior variação de queda no volume de vendas em relação a dezembro de 2020 (0,3%).
Em relação aos números do comércio varejista, os hipermercados e supermercados também tiveram um impacto maior na queda em janeiro de 2021, considerando que este setor registrou 1,6%, comparado à soma de todos os setores, que caiu apenas 0,2%.
No acumulado nos últimos 12 meses, os hiper e supermercados tiveram queda de 0,3% entre janeiro e dezembro de 2020 e aumento nas vendas de 1,4% entre janeiro de 2020 e janeiro de 2021. Já o comércio de forma geral, apresentou aumento de 1,2% entre janeiro e dezembro de 2020 e queda de 0,3% entre janeiro de 2020 e janeiro de 2021.
Não bastassem as dificuldades em manter a lucratividade frente à concorrência, os pequenos e médios supermercadistas ainda lidam com desafios trazidos pela desinformação.
Um estudo realizado em 2014 pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE, identificou as principais causas da morte dos pequenos e médios negócios. 49% das empresas já encerradas não fizeram planejamento antes de sua abertura, enquanto que 36% das que encontravam-se em atividade correspondem a 36% do universo pesquisado.
A falta de gestão após a abertura corresponde a 22% das empresas já encerradas, enquanto que 34% dos negócios em atividade não realizavam uma gestão eficaz.
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A falta de políticas governamentais para os pequenos negócios correspondem a 14% tanto para as empresas já encerradas quanto para as empresas ainda em atividade.
O setor supermercadista tem muita dificuldade em manter a lucratividade. A perda de dinheiro se dá basicamente pela falta de gestão de pessoas, pela falta de análise e controle dos números, bem como pela dificuldade em lidar com carga tributária do setor.
Aqui, uma breve descrição dos maiores problemas relacionados à gestão, aumentando os desafios e impedindo-os de fazer frente à economia de forma mais competitiva.
1. Gestão de Pessoas – A falta de processos quanto às responsabilidades dos colaboradores traz perda de tempo com o refazimento do trabalho.
Perde-se muito dinheiro, em especial pela falta de qualificação dos colaboradores, além da alta rotatividade.
Os gestores também se sentem inseguros em delegar e definir regras básicas de comportamento.
2. Gestão do Dinheiro – Falta controle sobre os pagamentos e os recebimentos.
Sem controle não há visão de que gasto o negócio pode renegociar prazos ou mesmo dispensar o serviço.
3. Gestão de Preços – Ainda há muitas dúvidas envolvendo conceitos básicos da precificação, tais como margem e mark-up.
Comumente, o pequeno supermercadista identifica o preço da concorrência e define valores menores sem considerar que o preço precisa sustentar a necessidade financeira da empresa.
4. Gestão do Estoque – Além de desconhecer o momento ideal para comprar, o gestor desconhece como o Custo da Mercadoria Vendida – CMV é formado. Sendo ele, a base para a precificação, quando errado, distorce o preço.
Quanto à gestão do estoque, o negócio também sofre com o alto índice de perdas, agravada pela falta de processos de prevenção e controle.
5. Gestão Tributária – A gestão do custo tributário é condição básica para a sobrevivência do negócio uma vez que o tributo é parte integrante do preço.
Os problemas envolvendo tributação apresentam algumas vertentes:
– Regime de tributação inadequado ao porte da empresa.
Ainda é muito comum alguns gestores acreditarem que o Simples Nacional é a melhor opção.
Isso é um mito, considerando que os tributos pagos sobre o lucro são cobrados no Simples mesmo queo a empresa apresente prejuízo.
– Gestão tributária do Mix – Tendo uma variedade de categorias e de carga tributária, os erros fiscais do cadastro contribuem muito para os prejuízos financeiros, inclusive porque coloca a empresa em risco de autuação fiscal.
A má gestão tributária do mix também gera preço errado e margem de lucro distorcida.
– Dificuldade da especialidade – Por outro lado, também há a dificuldade em encontrar contabilistas especialistas que conheçam o lucro real e que possam atender as exigências legais.
– Formação do Custo e do Preço – A impossibilidade de segregar tributos do custo de aquisição para compensar com os tributos devidos pela venda segundo o regime do Simples, prejudica tanto a aquisição do estoque quanto aumenta a carga tributária da venda e, por consequência, o preço.
6. Gestão do Conhecimento – Infelizmente, muitos gestores de pequenos supermercados acreditam que copiar informações tributárias do concorrente é uma solução aceitável. Nesse contexto, colocam a empresa em risco de autuação fiscal.
7. Gestão dos Investimentos – Sempre que identificam a falta de lucratividade, alguns gestores acreditam que investir em ampliação do negócio resolverá o problema.
Esse erro só contribui para o colapso financeiro já que não é causa, mas consequência da desinformação e do descontrole.
Não há lucro sem gestão do dinheiro. Sem uma visão clara da realidade financeira da empresa, qualquer ação fica prejudicada. Por fim, entendo que os maiores desafios do setor estão relacionados com a gestão interna do negócio que, por isso, não consegue lidar com as dificuldades impostas pelo mercado.
Foto: Reprodução