O fluxo cambial encerrou o ano passado negativo em US$ 12,2 bilhões, pior resultado anual desde o conturbado ano de 2002 e muito distinto do saldo positivo de US$ 16,7 bilhões de 2012. De maior destaque, a deterioração do lado financeiro do fluxo, que fechou o ano com saídas líquidas de US$ 23,4 bilhões, desempenho que ilustra a piora do sentimento dos investidores com relação aos ativos brasileiros. Como resultado da perda de confiança e da saída de recursos do país, o dólar apresentou alta de 15% em 2013, tendência que deve persistir neste ano.
A evolução recente dos fluxos não surpreende, pois reflete a piora dos fundamentos econômicos do país nos últimos anos, com um conjunto de ações que foram derrubando gradativamente importantes pilares construídos em anos anteriores.
O gradual abandono das diretrizes fornecidas pelo chamado tripé macroeconômico, especialmente a partir de meados de 2011, iniciou um processo de reversão da confiança adquirida pelo Brasil durante anos de gestão econômica transparente e responsável, o que resultou na elevação dos prêmios de risco e culminou na ameaça de rebaixamento da nota da dívida do país pelas agências de rating, sem nenhuma contrapartida de melhora do desempenho econômico.
Pelo contrário, o Brasil tem colecionado resultados adversos, exibindo desde 2011 uma combinação de crescimento baixo, inflação acima do centro da meta e piora das contas públicas e externas. Porém, mais do que o desempenho macroeconômico, pesam sobre o sentimento dos analistas e investidores as ações econômicas do governo atual, com seu excessivo intervencionismo em setores de atividade e a perda de transparência dos resultados fiscais.
Sem perspectiva de grandes mudanças nos aspectos citados, a tendência para 2014 não é muito distinta da recentemente observada.
Além da continuidade do mau humor dos investidores para com o Brasil, as entradas de dólares serão afetadas pelo ajuste da política monetária americana, que tende a enxugar gradualmente a liquidez dos mercados. Esse cenário suporta a expectativa de nova desvalorização do câmbio neste ano, para o qual estimamos de R$ 2,45/US$ a final do período, embora com riscos claramente assimétricos na direção de uma taxa mais elevada.
Fonte: Estadão
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