Com a aprovação da reforma da Previdência, a questão que emerge é como será a continuidade da agenda reformista. Não é de hoje que uma série de mudanças estruturais são necessárias para destravar o país. Os candidatos são sempre os mesmos: reforma tributária, desburocratização do Estado, abertura comercial. Aliás, é sobre esse último que quero tratar.
Quando um técnico aparece em algum veículo de comunicação para argumentar a respeito de alguma reforma, normalmente a linguagem é uma barreira, além do fato de muitas vezes o assunto ser tratado de maneira abstrata para o cidadão comum. Pois bem, visualizei na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) um experimento de como a desregulamentação e a abertura comercial podem beneficiar todo um ambiente, sentindo isso na pele, ou melhor, no estômago.
Em uma frase sintética, a universidade abriu o campus para que novos comerciantes pudessem vender seus produtos com seus food trucks. De um lado houve a quebra do monopólio dos tradicionais vendedores, aumentando a oferta e a qualidade; e de outro um incremento na demanda, visto que os preços se tornaram mais atrativos, associados a uma oferta diversificada.
Melhor especificando, a situação tradicional era a seguinte: existiam seis lanchonetes, na qual sua exclusividade na região em que atuavam permitia oferecer produtos a um preço elevado. Tais lanchonetes alugavam o espaço da universidade e detinham o monopólio do comércio.
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Com o final do contrato e problemas com a renovação, a universidade autorizou a entrada de food trucks no campus. Em pouco mais de um mês, mais de 20 estabelecimentos se instalaram na região. O impacto foi imediato com um aumento absurdo da oferta de produtos. Se antes as lanchonetes tradicionais vendiam apenas salgados e alguns complementos como refrigerantes e doces, os novos comerciantes trouxeram uma ampla gama de produtos, desde o que era tradicionalmente vendido até a oferta de diferentes lanches, opções veganas variadas e até mesmo churros.
Aliás, analisando os salgados anteriormente vendidos, antes da chegada dos food trucks, as lanchonetes compartilhavam do mesmo fornecedor, e comercializavam a um preço bem salgado. A média era de R$ 5 por unidade de um produto que julgava abaixo do esperado. Hoje, o preço médio gira em torno de R$ 4, sendo os itens com qualidade bem superior aos antigos.
Essa nova oferta com um valor mais atrativo trouxe outra dinâmica para o mercado ao incorporar clientes que antes pouco consumiam daqueles produtos. O mercado cresceu, diversos empreendedores individuais estão conseguindo manter seus negócios e toda a comunidade acadêmica agora pode aproveitar itens mais acessíveis, diversos e com um bom nível de qualidade.
O que eu quero ilustrar aqui é apenas um exemplo de como o aumento da concorrência pode ser benéfico e seu impacto positivo no microcosmo desse campus universitário. Se nesse ambiente, a quebra das barreiras e uma dose de liberdade econômica mostraram-se tão poderosas, imagine, para o Brasil, o desentrave das barreiras comerciais?
Esperamos que a agenda de reformas prossiga e que as barreiras comerciais sejam desintegradas para que o país possa entrar no mapa do comércio mundial.