Segundo dados preliminares do TSE, o número de votos brancos e nulos têm crescido nos últimos pleitos eleitorais, chegando a 13.7% dos votos nas últimas eleições. Somados aos eleitores que sequer compareceram as urnas para votar, o número muitas vezes superou o primeiro colocado em muitas cidades. Das 26 capitais brasileiras, em 21 os não votos superaram o primeiro colocado (em 11 delas) e o segundo colocado (em mais 10 cidades). Em capitais como São Paulo, Salvador e Curitiba o número total daqueles que “votaram em ninguém” superou o número de votos no primeiro colocado. No Rio de Janeiro esse número chegou a 42,5% e em Belo Horizonte a 43,1%. Em ambas as cidades esses números superaram a votação dos dois primeiros colocados somados.
Ainda que estes números possam parecer alarmantes, precisam ser vistos com certo cuidado. Em primeiro lugar, ainda que o número de pessoas que não expressaram preferência por nenhum candidato tenha aumentado este ano, os números também foram expressivos em anos anteriores. Assim, não é uma novidade que tenha havido vencedores das eleições com votações inferiores ao número total de abstenções, brancos e nulos. Em segundo lugar, é preciso diferenciar abstenções (quem não compareceu para votar) dos votos brancos e nulos.
Abstenção
Em relação ao primeiro grupo, pouco se pode dizer, pois há muitas razões possíveis para o não comparecimento às urnas. Desde quem realmente preferiu ficar em casa por não estar engajado no processo eleitoral (e optou por pagar uma multa simbólica para regularizar-se junto à Justiça Eleitoral), até quem estaria muito interessado em votar, mas por motivos diversos estava fora de seu domicílio eleitoral. Ou seja, não se pode aferir que a abstenção necessariamente signifique um desengajamento da política, ou a percepção da falta de opções em quem votar por parte do eleitor. Em relação ao segundo grupo, o dos brancos e nulos, estes sim de alguma forma representam alguma forma de desengajamento do sistema.
Voto branco ou nulo
O eleitor que compareceu às urnas, mas votou branco ou nulo, de alguma forma preferiu não se posicionar. Diante das opções oferecidas, não se sentiu representado por nenhuma delas. Pode estar desengajado da disputa, não vendo diferenças entre os candidatos, ou pode também estar profundamente crítico da política, preferindo um voto de protesto. Para este eleitor ou eleitora, o argumento de votar no “menos pior” não o seduz, considerando todas as opções igualmente ruins.
Em um cenário político crítico como o nosso – de uma crise com diversas dimensões (não só econômica e política, mas também a da corrupção) – o “não voto” também reflete uma crise de representatividade. Esta não é só brasileira, é verdade, mas também se mostra como um sintoma dos problemas enfrentados por nosso sistema político. O presidencialismo de coalizão – com regras eleitorais que estimulam a fragmentação partidária aliada à falta de lideranças políticas capazes de apontar rumos para a superação desses problemas – contribuiu para este crescente descolamento entre parte do eleitorado e a política. Assim, não se trata de brigar com o eleitorado quando este não se mostra interessado, pois cabe à política e a seus atores (políticos e partidos) buscarem e engajarem o cidadão.
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