Quarenta e quatro dias depois da chegada da Força Nacional ao Rio para combater os roubos de cargas, caminhões continuam na mira do crime no Rio. O medo da violência levou mais de cem motoristas a se reunirem em protesto, ontem, na Avenida Brasil. Segundo o Sindicato das Empresas do Transporte Rodoviário de Cargas e Logísticas no estado (Sindicarga), embora a presença da tropa federal tenha reduzido as ocorrências no entorno dos complexos do Chapadão e da Pedreira, únicos locais onde ela atua, os números gerais do estado continuam em disparada.
— Só em São Gonçalo os roubos de cargas dobraram. No todo, o aumento foi de cerca de 45% com relação a meses anteriores. Os criminosos apenas migraram. Além disso, como a Força Nacional só atua até 18h e de segunda a sábado, também houve uma explosão nos assaltos ocorridos à noite e aos domingos na região do Chapadão e da Pedreira — detalha Venâncio Moura, coronel reformado da PM e diretor de segurança do Sindicarga.
Já a Força Nacional informou que a queda nos roubos na sua área de atuação foi de 67% desde o início da operação, em 15 de maio. O efetivo, que a princípio era de 300 homens, foi reajustado para 560 profissionais, que custam mais de R$ 125 mil diários aos cofres da União apenas com o pagamento dos agentes.
A Secretaria de Segurança, porém, admite que a estratégia de concentrar o reforço no Chapadão e na Pedreira não surtiu o efeito desejado. Ontem, em entrevista coletiva, o subsecretário de Comando e Controle, Rodrigo Alves, afirmou que os homens da Força Nacional passarão, hoje mesmo, a patrulhar outras áreas.
— O planejamento prevê a atuação pela mancha criminal. Em algumas regiões, a incidência é maior em certas partes do dia. Então, a partir desta quarta-feira, eles estarão presentes, sim, em outros locais e horários — prevê Alves.
Operação resulta em sete presos
Enquanto os empresários de dezenas de transportadoras protestavam, em um ato que começou a ser planejado há pelo menos uma semana, uma grande operação em vários pontos do estado culminou na prisão de sete suspeitos de envolvimento com roubos de cargas, sobretudo na região dos complexos do Chapadão e da Pedreira. Dois suspeitos morreram e um menor foi apreendido, além de diversos produtos serem recuperados. Participaram da ação agentes da Polícia Civil, da PM e da Polícia Federal.
Além do Chapadão e da Pedreira, as incursões também aconteceram na comunidade do Guandu, em Japeri, na Baixada Fluminense; no Morro Jorge Turco, em Coelho Neto; no Juramento, em Vicente de Carvalho; no Complexo do Alemão; e no Morro Boogie Woogie, na Ilha do Governador (todos esses na Zona Norte da capital). Os produtos recuperados pela polícia eram de vários tipos, como pneus, biscoitos e eletroeletrônicos.
Um dos presos é Jefferson Targino da Silva, o Torre Targino, apontado como um dos gerentes dos roubos de cargas no Chapadão. Uma investigação de quatro meses da Polícia Federal revelou que Targino, até então foragido, era quem recrutava outros assaltantes e planejava os crimes contra os caminhões naquela região.
Trânsito chegou a 17km
O protesto dos transportadores de cargas complicou ainda mais o trânsito da cidade no início da manhã de ontem. Só na Avenida Brasil, de acordo com o Centro de Operações da Prefeitura do Rio, o congestionamento alcançou 17km de extensão.
Os reflexos afetaram o fluxo também em outras vias expressas, ocasionando um total de 56km de engarrafamento. Para driblar os contratempos, a prefeitura chegou a orientar a população que desse preferência a usar o metrô, trem ou BRT.
Os manifestantes partiram do Mercado São Sebastião, na Penha, na Zona Norte da cidade, e ocuparam duas faixas da Avenida Brasil, no sentido Centro. Ao todo, cerca de cem caminhões participaram do ato, com cartazes e faixas alertando para a escalada nos roubos de cargas e cobrando soluções.
— A situação está insustentável. Os empresários do setor de cargas no Rio estão prestes a parar. Motoristas estão pedindo demissão, o seguro está mais caro, não dá mais para fazer frete. O governo federal precisa agir — pediu o coronel Venâncio Moura, do Sindicarga, entidade que não participou diretamente do protesto.
Feirão sobre trilhos
No início de maio, na série “Rio sem entrega”, o “Extra” mostrou que produtos roubados são comercializados nos trens da SuperVia. Em alguns casos, os itens chegam aos vagões menos de duas horas após os crimes.
Extorsão
As reportagens revelaram ainda que, devido aos assaltos, até carros-fortes transportam carnes no estado. A série trouxe à tona também, com exclusividade, a extorsão praticada por bandidos para que empresários não se tornassem vítimas dos crimes.
Reforço
Sete dias após o fim da série, a Força Nacional chegou ao Rio para combater o roubo de cargas.
Fonte: “Extra”.
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