A pressão vivida pelo presidente Michel Temer, depois de um processo que culminou com o impeachment de Dilma Rousseff, deixa claro que o Brasil caminha aos poucos para um sistema parlamentarista informal. Se Rodrigo Maia se concretizar como sucessor do atual mandatário no Planalto, mais uma peça desta engrenagem estará sendo completada.
O sistema atual, de presidencialismo de coalizão, já mostrou suas falhas em diversas situações. Gerador de um fisiologismo crônico, é baseado em um governo forte, porém dependente do Congresso Nacional. A consequência é clara: a troca de apoio transforma esta interdependência entre os Poderes complicada, o que acaba por provocar crises que contaminam ambos os polos. Da mesma forma, aquele governo que falha em alcançar harmonia com o Parlamento acaba caindo, exemplos clássicos de Fernando Collor e Dilma Rousseff.
Nos Estados Unidos, onde existe um modelo presidencialista clássico, o governo é responsável por administrar, enquanto cabe exclusivamente ao Parlamento legislar. Raramente vemos membros do Congresso integrarem a alta administração pública, enquanto as propostas legislativas do governo são apresentadas pelos seus líderes parlamentares. Ao presidente nem sequer é facultado entrar no Congresso. Comparece somente quando é convidado formalmente pelo Legislativo.
Enquanto nas Américas o sistema presidencialista, com suas variações, é maioria, na Europa ocorre o oposto. Lá, o sistema parlamentarista é o mais comum. O modelo é simples. Aquele partido que alcança maioria parlamentar nas eleições para o Congresso tem o direito de formar um governo. Neste caso, o Primeiro-Ministro geralmente é o líder do partido com maior votação na eleição para a Câmara Baixa, no nosso caso, a Câmara dos Deputados. Como poder moderador, existe o monarca, como em países como o Reino Unido e a Holanda, ou um presidente, como na Alemanha e em Portugal.
O Brasil vive hoje um sistema híbrido. Possuímos uma Constituição com instrumentos parlamentaristas, como a Medida Provisória, entretanto, dentro de um modelo presidencial dependente do Parlamento. As diversas crises que vivemos desde a redemocratização evidenciam a necessidade de reforma por um sistema capaz de se reorganizar em momentos de anormalidade, sem causar traumas ou estender de forma desnecessária a continuidade de um governo que já perdeu legitimidade.
A solução parlamentarista vem sendo aplicada no Brasil de maneira informal. Não é normal que em uma jovem democracia presidencial já tenhamos passado por dois processos de impeachment em um curto espaço de tempo. Enquanto isso, a sugestão mais aceita como solução para a crise atual passa pelo presidente da Câmara. O parlamentarismo impõe-se como solução para as sucessivas crises do presidencialismo de coalizão. Sua adoção formal certamente traria estabilidade e racionalidade ao processo político.
Fonte: “O Tempo”, 10/07/2017.
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