Na semana passada os jornais deram destaque às longas filas que se formaram na abertura da primeira loja da Apple na América Latina, na Barra da Tijuca, no Rio.
Consta que a abertura da loja se deu com gritos dos fãs. Apenas não foi possível saber pelo noticiário se os gritos eram de entusiasmo com os produtos da loja ou de dor com os preços a que eles eram vendidos, mais de 80% acima dos preços nos EUA.
Os preços extremamente altos dos produtos fabricados no Brasil vendidos na loja da Apple são apenas a ponta do iceberg com que os brasileiros se defrontam.
De um modo geral, os preços dos produtos fabricados no país são muito mais caros do que no exterior. A tal ponto que jovens cariocas abriram uma página de denúncia bem humorada no Facebook, com o título “Rio $urreal”, ilustrada com a figura de Salvador Dalí.
Não há solução simples para acabar com nossos preços surreais. Se olharmos a composição dos preços dos produtos na loja da Apple na Barra vamos constatar que boa parte da diferença é explicada pela carga de impostos, muito mais pesada no Brasil do que nos EUA.
Logo, para reduzir os preços há que se contemplar uma reforma tributária que simplifique de forma radical os impostos indiretos no Brasil. Idealmente, através da criação de um único imposto, como o IVA nacional que existe nos países europeus, que substituiria toda a parafernália de impostos indiretos (IPI, ICMS, Pis-Cofins etc.) que infernizam o cotidiano de nossos empresários.
À simplificação do regime tributário deveria aliar-se uma redução das alíquotas. Mas para isso seria preciso controlar a expansão do gasto público, com todas as difíceis reformas que esse controle requereria (regras de salário mínimo, normas de aposentadoria, regras de acesso ao SUS, gratuidade do ensino superior etc.).
Mas os impostos são somente parte do problema. Os custos de produção e as margens de lucro de nossas empresas são muito altos. Isso se deve a que a economia brasileira é muito fechada ao comércio exterior.
Como consequência desse isolamento comercial, nossas empresas utilizam insumos locais caros e obsoletos, têm escala de produção pequena por estarem limitadas ao mercado interno, inovam muito pouco por não terem incentivos para tal, são excessivamente diversificadas sem foco nas atividades em que são mais produtivas, e enfrentam muito pouca concorrência.
Tudo isso contribui para tornar os preços surreais.
São grandes os desafios para resolver esse problema. É preciso contemplar uma ampla integração da economia brasileira com o resto do mundo.
Essa integração envolveria a realização de acordos comerciais com nossos principais parceiros, para assegurar que seus mercados se abram para nossos produtos na mesma medida em que estaremos abrindo nosso mercado para seus produtos.
A integração também deveria incluir a substituição dos atuais mecanismos de proteção à produção ineficiente –tarifas às importações, regras de conteúdo nacional, preferências para compras governamentais, processos produtivos básicos, normas técnicas peculiares (tomadas de três pontos, por exemplo), burocracia portuária e alfandegária asfixiante– por uma taxa de câmbio mais desvalorizada.
Desse modo, estaríamos assegurando uma expansão de nossas empresas mais competitivas, capazes de produzir bens e serviços de qualidade e com preços mais baixos. Os jovens cariocas poderiam então fechar seu portal porque o Brasil deixaria de ter preços surreais.
Fonte: Folha de S. Paulo, 22/02/2014
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