A compra da casa própria ou de um automóvel, a realização de um curso universitário ou qualquer outra decisão relevante na vida da maioria das pessoas é tomada após a definição de um planejamento, muitas vezes, de médio ou longo prazo. É a partir desse planejamento que conseguimos traçar planos consistentes, honrar os compromissos assumidos e atingir nossos objetivos, o que gera uma melhor qualidade de vida para nossas famílias.
Esse raciocínio, de planejar a longo prazo, porém, não faz parte das políticas públicas brasileiras. O resultado dessa ausência de planejamento é impressionante. O país cresceu, em média, apenas 2,5% por ano ao longo das duas últimas décadas, enquanto a China apresentou uma taxa anual de 9%, fortemente influenciada por um planejamento estruturado.
A exceção à regra, no caso do Brasil, abrange os últimos cinco anos, período de grande prosperidade econômica mundial no qual praticamente todos os países vivenciaram níveis mais elevados de expansão do PIB, em razão de uma bolha financeira que gerou níveis de consumo artificiais. O Brasil, nesse período, alcançou um elevado patamar de reservas financeiras, impulsionado pelo aumento do preço das commodities. Além disso, graças a sua ortodoxia na política econômica e a medidas de estímulo ao consumo interno, o país conseguiu superar a crise financeira, na medida do possível, de forma mais rápida em relação à Europa e aos Estados Unidos.
Entretanto, não há como abrir espaço no mercado de trabalho para as novas gerações se os governos continuarem seguindo uma visão imediatista, com prazos de três a quatro anos. O legado que todos nós deixaremos é o patamar de desenvolvimento econômico alcançado. Logo, não podemos perder a chance de incluirmos no debate eleitoral a necessidade de um planejamento de médio e longo prazo. E isso não vale somente para a área econômica e financeira, mas também para áreas sociais como, por exemplo, a educação.
Por que empresas como a Petrobras estabelecem metas e políticas claras para os próximos 20 anos, enquanto os governos orientam suas decisões sob uma visão de curto prazo? Será, prezado leitor, que as políticas de longo prazo dessas empresas são mais importantes que as do próprio país? Tenho certeza de que não.
Há, entretanto, poucos e bons exemplos, como é o caso da Agenda 2020, coordenada pela Polo RS, que organiza propostas concretas de interesse da sociedade gaúcha. Esse movimento reuniu mais de 800 pessoas de distintos segmentos da sociedade, para discutirem sobre o que sonham para o Rio Grande do Sul.
Precisamos ser visionários e não ter medo de sonhar com o futuro que queremos. Mas também é necessário ter disciplina, para transformar o sonho em realidade, e contar com a mobilização da sociedade. A disciplina, por exemplo, é fundamental para definir e acompanhar metas claras, assim como para utilizar, de forma contínua, modernas técnicas de gestão, buscando reduzir custos, aumentar a eficiência dos serviços públicos e melhorar a sua governança. Some-se a isso a necessidade de mobilizar as lideranças empresariais, sindicais e acadêmicas, juntamente com as melhores cabeças na administração pública, para que apliquem sua competência técnica em prol de um futuro melhor para todos, de forma a construir uma visão estratégica de longo prazo, deixando de lado ambições pessoais e de poder.
(Zero Hora, 29/11/2009)
No Comment! Be the first one.