O rebaixamento do rating brasileiro pela Standard & Poor´s é como o aumento da temperatura do corpo. Sinaliza que algo não vai bem com o organismo. Nesse caso, com a economia brasileira. A soma de crescimento baixo, inflação alta, déficit em conta corrente em expansão, problemas de coordenação de políticas macroeconômicas, bem como a não aprovação de reformas estruturais levaram à perda de credibilidade e desconfiança. A mudança promovida pela agência de risco, desse modo, apenas ratifica todos os sérios problemas vivenciados pelo país.
O rebaixamento que importa – pagar mais para rolar a dívida pública – já havia acontecido há algum tempo. As taxas de juros cobradas por títulos públicos de 10 anos (NTN-B) dobraram no último ano. Isso mostra que os agentes elevaram o prêmio de risco do país, mesmo antes da revisão. E por esse critério, explica-se o porquê do mercado ter dado de ombros para a mudança da S&P: o fato já estava no preço há um bom tempo.
Mesmo com a nova avaliação, o país ainda continua figurando como investment grade. A classificação importa porque sem ela grandes fundos de investimento não podem aplicar no país. Ou seja, a entrada de recursos, em um momento de elevação do déficit externo, se reduziria em alguns graus, acaso perdêssemos esse rating. É peremptório, nesse contexto, que a “febre” sinalizada pelo rebaixamento seja tratada a contento.
Dois conjuntos de coisas precisam ser implementados. O primeiro é uma mudança drástica no modo de conduzir a política econômica. É preciso garantir a autonomia do Banco Central, abalada desde agosto de 2011, quando o mesmo reduziu juros por decisão do Planalto e não por questões técnicas. Será necessário, igualmente, cessar a contabilidade criativa nas contas públicas, bem como interromper os empréstimos do Tesouro ao BNDES.
O segundo conjunto de medidas refere-se à aprovação de reformas estruturais. O mercado de trabalho com baixa ociosidade impede que o crescimento da economia seja impulsionado pelo fator trabalho. Será preciso, então, elevar o investimento e a produtividade da economia, para sair dos 2% de crescimento ao ano. Para isso, simplificação de pagamento de impostos, simplificação da legislação trabalhista, possibilidade de investimentos privados na infraestrutura dentre outros sinalizam melhora no ambiente de negócios, o que gera aumento de otimismo das empresas e maiores possibilidades de crescimento no médio prazo. Foi exatamente o que fez o México, levando-o a ter seu rating elevado – e não reduzido – pelas agências de risco.
Acaso esses dois conjuntos de medidas não seja iniciado a partir do próximo ano, a perda do investment grade é tida como certa. Menos entrada de recursos para uma economia com poupança cronicamente baixa, elevará em muitos graus nossos já sérios problemas. Desse modo, ou o próximo governo reverte as medidas equivocadas dos últimos anos, ou o cenário macroeconômico será mais do que desafiador. Ele será claramente restritivo.
Fonte: Revista Voto
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