Como em inúmeras periferias do País, a comunidade da Brasilândia, na zona norte de São Paulo, enfrenta a ineficiência do transporte público e a falta de serviços privados. Muitos dos aplicativos de automóveis costumam se recusar a circular dentro das quebradas, sobretudo as que são consideradas “áreas de risco”.
Observando os desafios da mobilidade na região e a importância de gerar empregos para homens e mulheres do bairro, o motorista Alvimar Silva teve uma ideia simples e brilhante: criar um atendimento personalizado via WhatsApp para que as pessoas pudessem ir ao médico, ao supermercado, ao banco, à diversão e ao trabalho com a mesma comodidade usufruída pelos moradores de áreas nobres. Com o apoio da filha Aline Landim, em 2017 nasceram um empreendedor e um negócio de impacto social, a Jaubra.
Apelidada pelos moradoras da Brasilândia como o “Uber da quebrada”, o serviço representa a proposta de uma mobilidade inclusiva; uma cidade inteligente para todos. O serviço trabalha com uma taxa competitiva em comparação a outros aplicativos similares; oferece, também, a opção de corridas compartilhadas – o que otimiza as locomoções de um ponto a outro. Com isso, os moradores passaram a ter mais mobilidade, conforto e segurança para se deslocarem em qualquer horário.
Hoje, a iniciativa do Alvimar conta com 50 motoristas cadastrados e atende cerca de 3 mil chamadas por mês. Aline, responsável pelos desafios tecnológicos da startup, lidera o projeto de criar um aplicativo próprio para ampliar o atendimento e incluir novos motoristas. Para se ter uma ideia, há mais de 500 motoristas aguardando a possibilidade de se cadastrar na Jaubra para atender as 2.500 chamadas que não estão sendo acolhidas pela empresa no momento.
A Jaubra ilustra a ampliação da disponibilidade e do compartilhamento – uma das oportunidades de empreender negócios de impacto social apontada pela Tese de Impacto Social em Mobilidade. Essa visão de futuro da temática, abordada nesse mapeamento, fala sobre a oferta de modais de transporte ou serviços de compartilhamento a um custo acessível; formas que não estão disponíveis em determinada região.
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Como exemplos, serviços de transporte sob demanda em áreas de risco; novos meios de transporte adequados às necessidades de moradores de áreas de favelas e periferias; soluções que permitam o compartilhamento de transporte para deslocamentos diários; carros e bicicletas a preços acessíveis; entre outras soluções.
Mais um exemplo do conceito de mobilidade inteligente é a OnBoard Mobility, negócio de impacto social criado pelos empreendedores Luiz Renato Muno de Matos, Marcel Popolin de Araújo Cunha, Valter Gabriel Paes Santiago e Durval Lucas dos Santos Junior, em 2016. A startup desenvolve soluções para a recarga online de serviços de transporte coletivo via aplicativo ou pelo chatbot Bipay; hoje, um dos serviços prestados é a recarga do Bilhete Único em São Paulo.
O serviço traz duas grandes vantagens para o cidadão: integra diferentes modais e serviços de transporte urbano e o pagamento de créditos por meio de um só aplicativo de celular. A ferramenta – que pretende ser o mais seguro sistema de recarga e otimização de transporte do Brasil, substituindo cartões, bilhetes, tíquetes e passes de transporte público – conta com a facilidade na recarga por aplicativo com o objetivo de otimizar o tempo de deslocamento, além de evitar possíveis dificuldades de recarga nos pontos físicos da rede pública.
A ideia surgiu, segundo Luiz Renato, ao ele ler uma reportagem sobre as indústrias que poderiam desaparecer até 2020. O texto mostrava que, com os avanços tecnológicos, a única coisa que sobraria na carteira do brasileiro seriam os cartões de transporte coletivo. A partir daí, teve o insight de criar um aplicativo.
“Quando pensar em solução inovadora de mobilidade urbana, pense em como ela pode
combater a segregação espacial a partir do combate a uma mobilidade restrita”
No mapeamento setorial, a OnBoard Mobility conversa com a oportunidade de otimizar o deslocamento individual ou público, permitindo melhor planejamento, aumento da eficiência e redução de custos e tempo nos deslocamentos diários. Essa, aliás, é a premissa de plataformas de planejamento e controle de viagens; soluções de georreferenciamento e big data para reduzir trajetos recorrentes; gestão de rotas para transportes escolares públicos; soluções que reduzam o tempo e o custo do deslocamento diário, além de soluções que aproveitem deslocamentos que já são feitos para outras finalidades.
O direito à cidade e ao exercício da cidadania estão intrinsecamente ligados à mobilidade. E o que os negócios de impacto social têm a ver com isso? A minha visão é que uma nova geração de empreendedores e empreendedoras pode contribuir para uma cidade mais democrática, que traga o foco no cidadão para o centro, com suas reais necessidades.
Fica então a provocação: quando pensar em empreender uma solução inovadora de mobilidade urbana, pense em como ela pode combater a segregação espacial, em especial dos mais pobres, a partir do combate a uma mobilidade restrita – que é um elemento-chave para a exclusão social à medida que contribui para a desigualdade. Esse deveria ser um dos focos de toda inovação emergente no tema, por ser um desafio transversal que limita as pessoas a desenvolverem as próprias potencialidades, a exercerem direitos e a acessarem oportunidades, o que agrava os níveis de pobreza e exclusão.
Fonte: “Estadão”