O prédio do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) fica em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Lá, em uma sala com piso de metal e grossos cabos pretos correndo em canaletas no teto, lê-se, em uma placa sobre a porta, “O homem há de voar”. A citação é do inventor brasileiro Alberto Santos Dumont, que batiza o mais potente computador já instalado na América Latina.
A máquina foi comprada no final de 2015 e colocada em operação no início deste ano. Ninguém discordaria de que ela é mesmo capaz de levantar voo: é um supercomputador petaflópico, ou seja, faz 1015 operações por segundo. Daria para resolver o exame do Enem em um piscar de olhos.
Faz semanas, no entanto, que o Santos Dumont está em modo de descanso, já que mantê-lo ligado é caro demais para o orçamento do LNCC. Ele é mesmo comilão: operando em potência máxima, sua conta de energia elétrica é orçada em R$ 500 mil mensais. “O governo nos dá recursos para comprar os equipamentos, mas se esquece de que há um custo para mantê-los funcionando”, afirma Wagner Vieira Léo, pesquisador do LNCC.
Como o mecanismo de resfriamento do supercomputador é delicado, deixar o equipamento parado é uma medida arriscada. Para garantir a integridade de seus sistemas, ele fica ligado apenas algumas horas por dia, rodando projetos mais simples, de meteorologia e desenvolvimento de fármacos. Entre novembro de 2015 e maio deste ano, o LNCC recebeu 75 propostas de uso por pesquisadores. Dessas, 32 foram analisadas, das quais 27 foram aprovadas.
Os pesquisadores enviaram todos os dados necessários para que a máquina ficasse pronta para uso. Agora falta o dinheiro. “Tenho convicção de que os cortes feitos em todo o sistema nacional de ciência e tecnologia terão um impacto significativo no desenvolvimento do país”, afirma Antônio Gomes, também do laboratório. “O Santos Dumont é apenas um dos projetos afetados.”
Fonte: Galileu.
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