Acabaram indo “atrás da curva” os diretores do Banco Central brasileiro. Como a taxa vinha “atrasada”, real negativa frente aos índices de preço, e observando um descasamento nos prêmios exigidos pelo mercado para a rolagem da dívida, optou-se por elevá-la em 0,75 ponto percentual, a 2,75%. No Fed, não tivemos surpresas, com o presidente Jerome Powell reafirmando sua postura “dovish” e defendedo uma “política acomodatícia” num cenário mais promissor para a economia norte-americana.
Como dizem no mercado, o BACEN resolveu “ancorar as expectativas”, fez o que deveria ser feito, dada a trajetória da inflação, impactada pelo câmbio mais depreciado e “commodities” em trajetória explosiva, com especial atenção para os preços dos combustíveis (ver gráfico abaixo).
Mesmo considerando este ambiente inflacionário desafiadore a economia ainda rodando no negativo, no que muitos chamam de “estaglação”, os diretores do banco o encaram como temporário, apesar de manter alguma vigilância. Acham que este vem sendo gerado por um fenômeno inédito, mas superável, casos as campanhas de vacinação deslanchem, abrindo espaço para uma retomada mais consistente da economia e a redução dos gastos públicos compensatórios.
Olhando o balanço de riscos, realmente, a cena não é das mais favoráveis.
A economia recuou 4,1% no ano passado, melhor do que muitos países, mas ainda um “belo tombo”, e deve continuar retraída neste primeiro semestre; a inflação, projetada pela Focus, já chega a 4,6%, negativando a taxa de juros real; a deterioração fiscal é uma realidade, com a dívida bruta beirando os 100% ao fim deste ano e a crise política, num ambiente de açodamento permanente, impacta no horizonte dos investidores. Aguardemos a ata, na semana que vem, para saber o que o que o BACEN deve considerar para os próximos movimentos. Ainda acreditamos numa taxa Selic em torno de 5% ao fim deste ano.
Sobre o Fed, nesta reunião de quarta-feira foi mantida uma postura mais “amena” (ou “dovish”), achando Powell que o juro deve se manter baixo até 2023. Considera a inflação, que possa ocorrer, como algo transitório e acredita que os indicadores de atividade são promissores. Isso acontece num momento em que o mercado de títulos “inclinava a curva de juro”, preocupado com a trajetória da inflação. A economia real deve ser “turbinada” neste ano, e nos próximos, pelos mega estímulos fiscais anunciados, e na leitura do mercado, deve vir a gerar alguma pressão inflacionária, no que muitos chamam de “reflation trade”.
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Powell parece não se preocupar, por ora, com estes sinais, o que é bem interpretado pelo mercado. As bolsas fecharam nesta quarta-feira em boa alta, assim como as curvas de juros dos T Bonds de dois anos e de dez anos, recuaram. No Brasil, o impulso também foi forte, com a bolsa de valores, estimulada pelas empresas de commodities e os bancos, subindo 2,22%, a 116.549 pontos, e o dólar perdendo vigor, em baixa de 0,59%, a R$ 5,5861. Já em NY, o DJ avançou 0,58%, a 33.016 e o Nasdaq 0,29%, a 3.974 pontos.
Por fim, podemos constatar que também contribuiu para este bom humor das mercados, no Brasil e nos EUA, a revisão mais otimista das projeções do Fed, elevando o crescimento do PIB, de 4,2% para 6,5%, e da inflação, pelo indicador de gastos (PCE), a 2,2%, mais próximo da meta, de 2,0% do Fed.
Fonte: “JHN Consulting”, 18/03/2021
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