Eleições são sempre plenas de fatos novos. Não poderia ser diferente em 2010. O resultado do primeiro turno desmentiu, em parte, a lógica dos fatos e é retrato perfeito e acabado de como o inusitado pode fazer diferença. O extraordinário desempenho de Eduardo Campos em Pernambuco, com 82,7% dos votos, contra o prestigiado Jarbas Vasconcellos foi também surpresa. Não a vitória, mas a imensa margem.
O Ficha Limpa é outro aspecto inusitado. Não apenas o tumultuado processo de discussão. Em não sendo decidida no STF, deixou em suspenso mais de uma centena de candidatos, bem como o resultado final das eleições legislativas.
A “aposentadoria” compulsória de certos figurões, como Tasso Jereissati e Marco Maciel, não deixou de surpreender. Até pelo fato de terem perdido para nomes de menor densidade e tradição política.
Ao largo dos nomes e derrotas, o próprio processo eleitoral foi um desenrolar de fatos novos e inusitados. Consideravam Dilma uma candidata impossível de ser levada adiante. Outros diziam que a transferência de prestígio de Lula era impossível de se realizar.
Diziam ainda que a liderança de José Serra, na fase pré-eleitoral, era imbatível. Ou que Marina Silva jamais chegaria a 10 pontos por sua mensagem elitista. Quando Dilma disparou e chegou a ter mais de 55% dos votos válidos, muitos achavam que a vitória estaria assegurada no primeiro turno.
De certa forma, o fato de não ter vencido definitivamente deixou a sua campanha com um gosto amargo de empate quando poderia ter vencido a disputa de forma tranqüila.
É verdade. Dilma deve lamentar, pois a vitória no primeiro turno estava ao alcance das mãos quando o inusitado voltou a dar as caras.
O inesperado e extravagante episódio Erenice Guerra lhe tirou pontos preciosos entre os eleitores mais esclarecidos. Depois a campanha suja deflagrada pela internet que tentou colar na candidata a pecha de não acreditar em Deus ou de defender o aborto.
Atingiu em cheio parcela mais conservadora do eleitorado. Outro fato inusitado foi a reação dura de Lula à posição oposicionista de setores da mídia e contra alguns de seus adversários políticos. Ao invés de assimilar o golpe e tratar de contorná-lo, no melhor estilo “Paz e Amor”, o ataque frontal terminou acirrando ainda mais os ânimos.
Na reta final, houve uma inesperada mudança de direção. Dilma fez programas eleitorais mornos ao invés do ritmo emocionante e emocional dos primeiros programas veiculados em agosto.
Como bem disse Machado de Assis, o inesperado é uma espécie de fada que muda o destino das pessoas e dos acontecimentos.
A campanha presidencial tem uma favorita clara, que é Dilma, mas não será um passeio no parque. Tanto pela indefinição dos eleitores de Marina no segundo turno quanto pela direção e intensidade que as campanhas de Dilma e Serra podem ter. E, por fim, devemos considerar que os fatos inesperados poderão dar as caras e definir o resultado. Como foi no primeiro turno.
Fonte: Jornal “Brasil econômico” – 05/10/10
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