Encomendada pelo Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (Simpi), uma pesquisa realizada pela Analítica Pesquisas Ltda. indica que 43% da pequena indústria paulista enfrentam problemas na competição com os produtos importados. Nada menos de 31% do universo pesquisado – 400 pequenas indústrias – declaram ter deixado de contratar novos funcionários, enquanto que 22% do mesmo universo declaram ter demitido pessoal em função dessa concorrência, enquanto que 10% disseram haver enfrentado as duas situações ao mesmo tempo – evitaram contratar de um lado e promoveram demissões de outro.
A pesquisa, que incluiu aspectos da competição com os importados, teve um objetivo maior: avaliar as expectativas dos micros e pequenos industriais paulistas diante do cenário econômico deste ano. Trouxe dados nunca antes observados de perto: 42% do segmento admitem haver sofrido, de algum modo, os efeitos perversos das medidas do Banco Central na tentativa de frear o consumo pela restrição ao crédito determinada pelo aumento das taxas de juros. Trata-se de um levantamento que tem por objetivo iluminar as tendências da pequena indústria através de uma representação sindical específica e dentro do conceito, irrefutável, de que os diferentes precisam ser tratados por suas diferenças.
Com iniciativas como essa – a de pesquisar as tendências que se observam especificamente no segmento da pequena indústria – o Simpi já começa a retirar do limbo as cerca de 300 mil pequenas indústrias do Estado de São Paulo há muito tempo atiradas na vala comum da representação de médias e grandes. A Secretaria da Pequena Empresa, cuja formalização se arrasta pelo Congresso Nacional, deveria nascer de olho nessa demanda, emergente: a de respeitar as diferenças que caracterizam o enorme contingente de micro e pequenas empresas no Brasil.
A iniciativa de prospectar as tendências específicas da pequena empresa é uma boa notícia em si mesma. Notícia ainda melhor pode vir com o notável amadurecimento das lideranças da pequena empresa reunidas nas entidades de representação que se espalham pelo país. “Quando mostramos que a pequena indústria paulista tem sido afetada pela livre comercialização de produtos importados não queremos com isso que o governo nos dê privilégios ou reservas cartoriais. Queremos apenas que a competição se dê em termos justos e em condições de igualdade, o que hoje não existe”, afirma, por exemplo, Joseph Couri, presidente do Simpi.
De olho na sustentabilidade dos produtos importados, as lideranças das pequenas empresas se perguntam: que igualdade de competição é essa, quando vemos que empresas que trabalham com mão-de-obra escrava ou infantil, que não têm a menor preocupação com o meio ambiente, que se beneficiam da manutenção do câmbio sempre comprimido nos degraus inferiores, chegam aqui e colocam seus produtos à venda sem nenhuma dificuldade? Para Joseph Couri, o governo deveria ao menos assegurar que a concorrência se dê dentro das normas da Organização Mundial do Comércio (OMC).
A voz dos pequenos ainda é fraca num país que está por descobrir a sua real importância no contexto econômico e social. Foram chamados de guerrilheiros da prosperidade numa famosa série de reportagem publicada há 25 anos pelo “Jornal da Tarde”. São mesmo assim: guerrilheiros empedernidos na batalha contra as barreiras colocadas em seu caminho. Não é de duvidar que consigam, portanto, impor critérios mais rigorosos de sustentabilidade nas importações. Os guerrilheiros, que repudiam a reserva de mercado, vão poder contar com o apoio da sociedade a cada dia mais consciente da emergência que se estabeleceu em torno da sustentabilidade, construída, não apenas pela conservação dos recursos naturais, mas também pela ética. Terão de estar compenetrados de que a arma mais eficaz dessa guerra está na idéia de que o melhor exemplo vem de casa.
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