Com Dilma, a economia do Brasil estava no quinto dos infernos, com viés de sexto ou sétimo. Com Temer, a desmoralização do Estado continua
Todas as vezes que o governo Michel Temer dá mais algum sinal de sobrevida, e deixa ainda mais claro que só acabará no dia em que está previsto que acabe, o mercado gosta. Temer, quem diria, é hoje uma boa notícia econômica. Não se trata, certamente, de admiração pelas virtudes de seu governo, ou por sua visão estratégica das necessidades do país, ou de seu destemor para levar adiante as reformas.
O que existe, e isso está fazendo muito bem para o ânimo geral, é a percepção de que a administração diária da economia tornou-se algo à parte da calamidade moral, técnica e política que faz do governo Temer um defunto ambulante, do qual o melhor que se pode esperar é que chegue em relativa paz ao seu último dia.
A política econômica está correta, é executada com competência, e vem dando bons resultados. Temer, seus ministros-catástrofe e sua base parlamentar, ameaçada 24 horas por dia pelo Código Penal, não podem mexer no coração dela; podem atrapalhar muito, promovendo uma crescente queima de dinheiro público em favor de interesses privados, ou mostrando uma pusilanimidade sem limites para lidar a sério com temas como a Amazônia e outros, mas vão só até um certo ponto.
A partir dali, não conseguem impedir que a economia, pela força do próprio país, vá adiante. Ao mesmo tempo, enquanto Temer fica no Palácio do Planalto, há a garantia de que os débeis mentais que se propõem a destruir o Brasil pela segunda vez seguida continuarão de fora.
É isso que leva o país para a frente hoje em dia. A inflação está mais bem controlada do que nunca, e promete ficar ainda mais contida no futuro próximo. A situação do emprego dá sinais repetidos de melhora. As exportações caminham para novos recordes, e a balança comercial é largamente positiva. Consumo, investimento e níveis de confiança estão em alta constante.
Mais que tudo, a palhaçada montada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pela Procuradoria-Geral da República em busca do “Fora Temer”, cuja encenação cabe mais uma vez à Câmara dos Deputados, não é levada a sério pelo mundo do trabalho e da produção. Sobrevive apenas na neurastenia sem controle do noticiário político, que todos os dias anuncia um novíssimo e seriíssimo “agravamento” da crise — sem que o público preste qualquer atenção ao que está lendo e ouvindo.
Parece ir se firmando, acima de tudo, a ideia geral de que os mais altos degraus do Judiciário, Executivo e Legislativo brasileiros são hoje ocupados por irresponsáveis, incompetentes e criminosos ao mesmo tempo — mas sua ação conjunta é menor do que a capacidade do Brasil para sobreviver.
Além do mais, há a convicção crescente, e agora apoiada por alguns fatos concretos, de que os militares não vão aceitar que o STF conduza Lula de novo à Presidência, ponha todos os seus ladrões em liberdade, e compense os outros Aécios, Geddéis e Joesleys da vida com a mesma “anistia” do tipo “vamos zerar tudo pelo bem do país”.
Na verdade, ninguém, nessas e em outras altíssimas esferas, fala de intervenção, Forças Armadas, golpe militar e outros fantasmas; fingem que não está acontecendo nada. Mas ouvem, sim, o que foi dito, e não parecem dispostos a acender o fósforo para ver se há gasolina no tanque de combustível. Na verdade, morrem de medo da primeira farda que lhes passe na frente, nem que seja da guarda-noturna, e já estão preparando seu latinório e seus diagramas de “engenharia política” para salvar os empregos, as vantagens e os privilégios e, ao mesmo tempo, ceder um pouco à razão — o que já ajudará em muito a estabilidade mínima para o mundo da produção.
Com Dilma Rousseff, a economia do Brasil estava no quinto dos infernos, com viés de sexto ou sétimo. Com Michel Temer, a desmoralização do Estado continuou sendo a mesma dos tempos de Dilma e de Lula — afinal, o governo Temer é apenas a continuação, e a parte final, dos governos de ambos. Como poderia ser diferente deles? Mas nenhum dos dois, nem Michel, pode mais mexer na economia. É a salvação de todos nós.
Fonte: “Exame”
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