Presidente lança ofensiva por votos para barrar investigação
O governo de Michel Temer lançou um ataque final na estratégia de conquistar deputados para barrar a denúncia contra ele na Câmara dos Deputados, que terá de decidir nesta quarta-feira, pela primeira vez na História, se autoriza o Supremo Tribunal Federal (STF) a levar adiante a análise do processo contra um presidente da República no exercício do mandato.
Apenas na última terça-feira, véspera da data decisiva, Temer recebeu 31 deputados no Palácio do Planalto — que tiveram os nomes detalhados na agenda oficial — e mais representantes da bancada feminina, que não tiveram seus nomes divulgados pela assessoria do governo até a conclusão desta edição. Desde que a denúncia chegou à Câmara, no dia 29 de junho, Temer recebeu em seu gabinete ao menos 117 deputados federais para negociar cargos e emendas: uma média de quase quatro por dia, isso contando fins de semana.
Além desses encontros registrados na agenda oficial, o presidente participou de uma série de reuniões com congressistas em compromissos fora do Planalto, seja em residências de deputados, no Palácio do Jaburu ou no Alvorada. Sempre para tentar organizar a base e manter-se no cargo. Entre os grupos que receberam a atenção presidencial, um dos mais cortejados foi o dos ligados ao agronegócio, a chamada bancada ruralista, uma das maiores e mais poderosas da Câmara — e que sozinha tem número suficiente para derrubar a denúncia de Temer: são 230 deputados, 58 a mais do que o necessário para impedir o avanço do processo criminal.
Em outra frente para garantir votos, o Planalto preparou uma “invasão” dos “ministros-parlamentares” na sessão de hoje e reforçou o apelo para que todos os deputados compareçam. A estratégia de recolocar os ministros na Câmara tem dupla função: garantir votos a favor de Temer e contra a denúncia e mostrar coesão dos partidos que detêm ministérios em torno de Temer. Até a noite de ontem, o governo ainda estudava quais suplentes dos ministros que também são deputados eram considerados “confiáveis” e em quais casos era melhor fazer a substituição. No total, são 11 deputados que atualmente estão licenciados e com cargos na Esplanada de Temer.
ALMOÇO COM RURALISTAS
O peemedebista almoçou ontem com os ruralistas na sede da frente parlamentar agropecuária, em Brasília, e anunciou benesses. Editou uma medida provisória reduzindo a taxa de contribuição do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural) e parcelando dívidas do campo. O almoço contou com a presença de 52 deputados e oito senadores.
O presidente da Frente dos ruralistas, deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), elogiou o tratamento do governo aos deputados da bancada.
— Nós temos, sim, que pedir muito, mas temos também que saber agradecer aquilo que avançou para o Brasil. O Brasil hoje vive um novo momento. Tem que reconhecer isso politicamente — afirmou Nilson Leitão.
Em 28 de junho, um dia depois de Janot denunciar Temer ao STF, e também na véspera de a denúncia chegar à Câmara, o presidente recebeu representantes de duas frentes parlamentares ruralistas: Frente Parlamentar Agropecuária e Frente Parlamentar pela Valorização do Setor Sucroenergético. A primeira tem 230 integrantes, enquanto a segunda, 218 — muitos deputados integram as duas frentes.
No dia mais intenso de encontros com deputados, 4 de julho, o primeiro da tramitação da denúncia na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, o presidente passou das 8h30m até perto das 23h recebendo deputados no Planalto. Foram ao menos 22.
A Procuradoria-Geral da República apresentou a acusação contra Michel Temer por corrupção passiva que, se recebida pelo STF, levaria o presidente a virar réu e, assim, ser afastado do cargo por 180 dias. No entanto, apesar do aprofundamento da crise política a partir da revelação da delação da JBS pelo GLOBO, tanto a base aliada como a oposição eram unânimes ontem ao afirmar que não há 342 deputados favoráveis à autorização, o que significa que o caso não deve seguir para o STF.
O desafio de Temer passou a ser sobretudo mostrar o tamanho real de sua nova base aliada e se ela terá musculatura para aprovar as agendas prioritárias do governo, atropeladas pela crise política — sobretudo as reformas da Previdência e tributária.
Ontem, afirmando estar confiante, o presidente acusou a oposição de querer “destruir” o parecer final da CCJ, que, depois de uma manobra, recomendou o arquivamento da denúncia contra ele por corrupção passiva:
— Quem tem que votar são os que querem destruir aquilo que a CCJ decidiu. A CCJ já decidiu. Não há autorização. Agora é o plenário — declarou a jornalistas após a cerimônia. Em seguida, foi questionado se estava confiante.
— Sim — limitou-se a falar.
Fonte: “O Globo”
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