Há poucos dias, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento lançou seu Relatório de Desenvolvimento Humano, em que os países são avaliados com base em um indicador composto, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que procura mensurar até que ponto o desenvolvimento chega às pessoas.
Em outros termos, com base em dados de saúde, educação e renda, um índice de zero a um é atribuído a cada três anos e uma linha de evolução evidencia o progresso do mundo e de cada país no período.
O índice foi criado por Mahbub ul Haq, em parceria com Amartya Sen, economista indiano laureado com o Prêmio Nobel de Economia, e combina em sua composição a escolaridade média da população, a expectativa de vida e o PIB per capita.
O relatório de 2015 apresenta-nos numa posição desconfortável: estamos estagnados no IDH, num patamar inaceitavelmente baixo para o nosso grau de desenvolvimento econômico. Aparecemos pior ainda quando se soma, aos três componentes do índice, uma de nossas maiores fragilidades: a desigualdade. Somos um país muito mais desigual do que países com PIB menor que o nosso.
O que chama atenção é que, nos últimos anos, melhoramos em alguns indicadores sociais relevantes, como ampliação do acesso à educação e redução da mortalidade materna e da mortalidade infantil.
Interessantemente, esta última realização é associada ao aumento da escolaridade feminina, embora também se beneficie do aumento de domicílios com saneamento básico. A desigualdade também diminuiu, fruto de políticas públicas como o Bolsa Família e o aumento do salário mínimo.
No entanto, parte destes avanços já havia sido capturada pelo relatório anterior e alguns problemas são de lenta resolução. Além disso, a recessão não nos ajuda a manter uma trajetória positiva; observe-se que os dados divulgados pelo PNUD são de 2015, o que indica que há chances importantes de piora no próximo relatório se não fizermos nada a respeito.
Infelizmente, o dado que ainda nos prejudica muito é o de anos médios de escolaridade da população. Se considerarmos a população de 18 a 29 anos, temos apenas 8,3 anos de estudo. Isso significa que, em média, não concluímos o ensino fundamental. Há razões históricas para tanto, mas isso contribui para mais desigualdade e pobreza.
Guillermo Perry, num estudo do Banco Mundial, mostra que a transmissão intergeracional de pobreza só se interrompe se as mulheres concluírem o ensino médio. Eu adicionaria: a construção de um processo de desenvolvimento humano mais sólido se inicia com a conclusão de um ensino básico de qualidade, o que ainda estamos longe de fazer!
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 24 de março de 2017.
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