Uma semana infernal para os mercados. No período de 4 a 8 de novembro, o dólar rompeu R$ 2,30, atingindo R$ 2,34 no último dia, depreciando o real acima de 8% desde o dia 16/11 (R$ 2,1610); a bolsa de valores acumulou queda de 4,0% na semana; o Credit Default Swap (CDS), de dez anos, seguro contra calote de dívida, chegou a 240 pontos, bem acima do registrado em outros emergentes, o EMBI foi a 231 pontos básicos (8,5% na semana) e os contratos de juros futuros, de janeiro de 2017, negociados acima de 11,5%.
Membros do governo acham que isto foi um “ataque especulativo à política fiscal do governo, engendrado pela imprensa”. Outros acham que a situação fiscal segue sob controle. Será mesmo?
Não acreditamos. Como já dito antes, a impressão que se tem é que o “copo transbordou” e a paciência dos investidores acabou com o governo adotando um “discurso vago” e os indicadores só piorando. Isto se refletiu, inclusive, em parte, no saldo cambial de outubro, negativo em US$ 6,2 bilhões, com fortes saídas líquidas no financeiro, de US$ 5,1 bilhões, com o comercial a US$ 1,1 bilhão.
Para piorar tudo, o “Financial Time” veio com uma matéria na qual o Brasil seria o pior dos emergentes dos Brics, devendo ter sua nota soberana rebaixada em breve. Importante frisar que caso isto ocorra não sairemos do “grau de investimento”, visto que estamos a dois degraus do “nível especulativo” (rebaixamento costuma ser de um nível), mas tudo é possível nesta difícil situação fiscal em que o país se encontra.
O fato é que tudo começou (ou foi “detonado”) depois de divulgados os indicadores fiscais de setembro. O saldo primário consolidado foi negativo em R$ 9 bilhões, pior em muitos anos, acumulando em 12 meses superávit de 1,58%, bem abaixo do mês anterior (1,82%). No ano, as despesas com custeio e transferências sociais seguem aumentando muito, acima do PIB nominal, e as receitas e investimentos pouco avançam. Temos uma gestão fiscal errática, cheia de maquiagens, desonerações sem efeito, despesas de baixa qualidade e só o governo não reconhece seus erros. Com sorte, usando o bônus de R$ 15 bilhões do leilão de Libra, dentre outros, fecharemos o saldo primário deste ano em torno de 1,7% do PIB.
Completando o cenário, nos EUA aumentam as chances do Fed antecipar o início da redução de compra de ativos na reunião, dia 17/12. Isto, aliás, também ajuda a explicar a depreciação cambial em curso. Além do mau humor com nossa política econômica errática, os investidores externos estariam migrando para o mercado norte-americano, buscando segurança nos treasuries bonds.
Para que isto aconteça, os indicadores econômicos norte-americanos precisam mostrar recuperação mais consistente. Na semana passada tivemos o PIB do terceiro trimestre e os indicadores do mercado de trabalho, payroll e taxa de desemprego, essenciais para esta tomada de decisão. Com a economia crescendo mais, aumentariam as pressões inflacionárias, jogando o IPC próximo a 2,5% e a taxa de desemprego a 6,5% da PEA, gatilhos para este processo de redução.
Sobre o PIB do terceiro trimestre, contra o anterior, o crescimento anualizado foi de 2,8%, acima do registrado no segundo trimestre (2,5%), com grande contribuição do ajuste de estoques, que acrescentou 0,8 ponto percentual ao desempenho. Sem este, talvez o crescimento fosse mais próximo a 2%, segundo estimativas do mercado. Os investimentos imobiliários vieram mais fortes, assim como o consumo do governo local, com o federal em queda e o consumo das famílias mais fraco (1,5% no trimestre contra 1,8% no anterior).
No mercado de trabalho, o payroll veio forte, com expansão de 204 mil, contra estimativa de 100 mil e a taxa de desemprego a 7,3% da PEA, próxima do mês anterior (7,2%). Ou seja, estes indicadores mostram a economia retomando, mesmo que em ritmo moderado, visto que o consumo das famílias e os investimentos não residenciais ainda não deslancharam.
Para o quarto trimestre, reflexo da paralisia do governo (shotdown) na primeira quinzena de outubro e medidas de ajuste fiscal, o PIB deve vir mais fraco, mesmo com a proximidade das festas de final de ano (período forte para o consumo das famílias). O acúmulo de estoques também pode frear esta recuperação da economia norte-americana. Para piorar, no primeiro bimestre de 2014 teremos mais um impasse fiscal com o fim do novo prazo de limitação da dívida e mais paralisias.
Mesmo assim, não podemos afastar o fato de que o processo de antecipação de redução da compra de ativos possa ocorrer em dezembro. Com isto, e “mantidas as condições atuais de temperatura e pressão”, estaríamos próximos de uma “tempestade perfeita”, com a conjugação de fatores negativos entre o final deste ano e o início do próximo (primeiro trimestre).
Dentre estes fatores, destaquemos o possível rebaixamento da “nota soberana” do Brasil pelas agências de rating, tornando mais caras as captações das empresas e do governo no mercado exterior, deterioração de indicadores ficais e externos, nos chamados “déficits gêmeos”, além da citada antecipação do processo de redução de compra de ativos pelo Fed. Como resultado, o câmbio deve se depreciar mais, impactando na inflação e forçando o Bacen a elevar o juro. A situação fiscal ficará pior e a economia crescerá menos, dado o juro mais alto, a inflação e a corrosão da renda real. Como o ano que vem é eleitoral, crescem também as pressões por novos gastos.
Como evitar este cenário? Principalmente, com o governo se aproximando da sociedade, melhorando a relação com o setor privado e o mercado, adotando medidas críveis, que revertam esta onda de desconfiança atual, principalmente, na área fiscal. O governo deve adotar medidas concretas, ajustes de fato nas despesas correntes, mesmo que com custos eleitorais. Esta seria a decisão correta. Se fará, não sabemos.
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